quarta-feira, 30 de março de 2011

DISCIPLINA BÍBLICA NA IGREJA [Parte III]

I Co 5:1-13

Introdução


Deus ama a Igreja e deseja mantê-la saudável através da disciplina bíblica.

I.                   A NECESSIDADE DA DISCIPLINA NA IGREJA
II.                O PROPÓSITO DA DISCIPLINA NA IGREJA
III.             OS PASSOS DA DISCIPLINA NA IGREJA
IV.             UM EXEMPLO BÍBLICO DE DISCIPLINA NA IGREJA

IV.             UM EXEMPLO BÍBLICO DE DISCIPLINA NA IGREJA [I Co 5:1-13]

1.      A Natureza do Pecado Cometido

Infelizmente o pecado ocorre na igreja, não deveria, mas ele se manifesta. Não é negando a realidade de sua existência que resolvemos o problema. No versículo 1, ele diz: "...há entre vós imoralidade”. O pecado é sempre uma ofensa a um Deus Santo e Justo, seja ele qual for, no entanto alguns possuem dimensões e consequências diferenciadas. Este era o caso, este pecado...

A.    É grave

Este pecado é grave, aliás, é gravíssimo. Sua natureza é chocante a ponto de os próprios incrédulos chocarem-se diante de tamanho pecado. O pecado na igreja entra em choque com o seu caráter santo. Ou seja, por causa do que é a igreja, a manifestação do pecado no seio dela é algo que chocante. Um membro praticou um tipo de imoralidade altamente repugnante, vivendo incestuosamente com a mulher de seu pai [uma madrasta]. Logo este pecado...

B.     É escandaloso

Mesmo sendo a sociedade greco-romana marcada por uma tolerância moral, [incesto era condenado tanto pelo romanos como pelos judeus – Lv 18:7,8] mesmo que seus membros, antes de convertidos participassem e vivessem dissolutamente [I Co 6:9-11]. Não há possibilidade deles continuarem “depois de Cristo” a mesma vida que eles tinham “antes de Cristo”. Que tinha a vida de um lavado e regenerado com essas práticas do velho homem. No entanto outra dimensão deste pecado é que ele...

C.     É público
Muitos pecados atingem um estágio público e notório . Esse mesmo versículo 1 começa com as palavras: "Geralmente, se ouve que há entre vós...". A questão não era privada, de mais fácil resolução e aconselhamento, mas já se espalhara, chegando até ao conhecimento de Paulo, que se encontrava distante. Se a questão é pública deve ser tratado de forma pública. Era algo notório e se comentava; circulava rumores verdadeiros com respeito a este incidente.
2.      A Postura Errada da Igreja frente ao Pecado

A.    A igreja está omissa

Traz-nos constrangimento o fato de que a igreja de Corinto, como um todo, parecia não ver nada de grave nisso: E este homem continuava a viver com sua madrasta às vistas de toda a igreja! A igreja não via problema! Mas o que mais incomodava o apóstolo Paulo era a falta de uma atitude firme por parte da igreja com relação àquela pessoa.

Paulo não dirige sua palavra aos pastores ou líderes, mas a toda a igreja. Pecado é um problema de toda igreja. É uma questão que afeta todos os membros e que não é somente responsabilidade dos pastores ou diáconos olhar para a vida dos outros membros e tomar algum tipo de decisão, mas que é responsabilidade de cada membro do corpo de Cristo zelar para que haja pureza, santidade, que haja no convívio da comunidade, verdadeira santidade ao Senhor. É importante, portanto, que Paulo trata da questão dirigindo-se a toda comunidade.  A disciplina é um processo intracomunitário desenvolvido pelos membros, cada um participando e sendo responsável para que a vida da igreja ande corretamente. Se não for assim corremos o risco de sermos participantes dos pecados alheios e incorrermos na culpa de cumplicidade.

Devemos portanto cuidar de nós mesmos, e da santidade de nossa igreja. Não trata-se de uma atitude policialesca, mas em amor e por amor vivermos vidas santas e, de como comunidade, zelarmos para que o nome de Cristo seja honrado e glorificado através da vida santa da comunidade dos santos. Infelizmente entendemos piedade em termos individuais, ou seja, piedosa é a pessoa que se fecha no seu quarto para ler e orar gastando tempo a sós com Deus. E santidade seria algo que se desenvolveria individualmente. Piedade é algo que eu exerço junto com o povo de Deus; culto não é algo que eu presto individualmente a Deus, somente, mas algo que faço com meus irmãos. Santidade é algo comunitário. Nós crentes caminhamos a vida de santidade juntos. Perdemos de vista este aspecto corporativo da Igreja apresentado no NT. É tão importante, salutar, equilibrado e abençoador para cada um de nós a ideia de andarmos juntos, vivermos juntos e nos santificarmos com a ajuda uns dos outros.

B.     A Igreja Está Soberba

Paulo está angustiado pelo fato da igreja não tomar esta atitude para zelar pela vida e pela pureza da igreja, pelo nome de Cristo e pelo próprio pecador. A falta de ação revelava acomodação da consciência individual e coletiva ao pecado, em forma de rebeldia e soberba. No versículo 2, Paulo se espanta que aqueles irmãos "... não chegaram a lamentar" toda aquela demonstração de vida em pecado. Paulo diz ainda que eles se achavam "ensoberbecidos". Por que? A igreja estava ensoberbecida, envaidecida possivelmente por causa dos dons espirituais. Os membros estavam orgulhosos de constituírem uma igreja “carismática”, ou quem sabe, uma igreja que amava a todos do modo que eram e de como agiam, ou seja, se orgulhavam da postura tomada em vez de estarem conscientes do mal que era causado ao testemunho do Evangelho.

Ela assume uma postura oposta “festiva”, em vez de estarem lamentando, ninguém estava se preocupando com o problema. Paulo estava angustiado por ver um membro vivendo em pecado e por constatar uma igreja tolerante que convivia com o problema sem nenhuma dificuldade.

Quando a disciplina não é exercida, nossas consciências vão sendo cauterizadas e conformamo-nos ao modo de comportamento do mundo e, também, deixamos de nos chocar, de identificar o contraste com a forma de vida prescrita para o servo de Deus. O pecado é insano! E os efeitos colaterais deles terríveis! Tanto pessoalmente como coletivamente.

3.      A Natureza da Disciplina a ser Tomada [3-13]

A.    A sentença determinada: Exclusão do Membro [3-5]

Antes mesmo de dizer as razõeas, Paulo já vem com a solução para o problema. Paulo geralmente coloca o problema, introduz uma série de princípios doutrinários e no final apresenta a conclusão. Mas Paulo parece tão atribulado que apresenta o problema e logo dá a solução; só posteriormente fala sobre as doutrinas que estão por trás da questão. Isso, talvez pela angústia que lhe passava na alma em vista do grande amor que tinha por aquela igreja.

(1)   Uma ação pública, não privada

Ele fala como apóstolo de Jesus: “...já sentenciei...”. Ele usa das prerrogativas de apóstolo e como tal, ele sentencia. Esta palavra “sentenciar” vem da linguagem jurídica que significa o pronunciamento final de um processo de julgamento. A igreja deveria ter feito isso e por que não fez, Paulo toma para si as prerrogativas de juiz. Ele mesmo faz o julgamento, sentencia o membro infrator dizendo: “...que o autor de tal infâmia seja, em nome do Senhor Jesus, reunidos vós [uma ação pública, a disciplina é eclesiástica] e o meu espírito, com o poder de Jesus, nosso Senhor, entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no dia do Senhor [Jesus]” (vs. 3-5).

Paulo aqui está ecoando o ensino de Cristo quando disse num contexto de disciplina: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18:20). Jesus já havia dito dois versículos atrás (v. 18) que: “...tudo o que ligardes na terra, terá sido ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, terá sido desligado no céu”. Paulo está ecoando o ensino de Jesus quando diz: [Eu, juntamente com vocês] “em nome do Senhor Jesus, reunidos vós e o meu espírito, com o poder de Jesus, nosso Senhor...” (v. 4). Dessa forma Paulo sentencia o membro daquela igreja.

(2)   Uma ação com consequências espirituais

O que significa “entregar a Satanás”? Em linhas gerais Paulo estava dizendo o seguinte: Uma vez que a pessoa não queira ouvir a voz da igreja, não aceita a repreensão do Espírito Santo, e,  sendo excluído da comunidade, será como uma ovelha que foi colocada para fora do aprisco. Lá fora estão os lobos à espera. Satanás vai cirandar, vai colocar sua mão em cima. O objetivo de Paulo com isso não é destruir a pessoa como muitos pensam em relação ao ato disciplinar. Em termos eclesiásticos alguns pensam de disciplina como algo que trás simplesmente punição ou destruição do pecador. Mas não é este o objetivo da disciplina. Apesar de todo rigor e firmeza de Paulo em tratar o assunto, ele diz: “...a fim de que o espírito seja salvo” (v. 5). Este é o objetivo que Paulo revela na sua carta; o amor por aquele pecador e seu desejo de recuperá-lo, mesmo que para isso medidas drásticas tenham de ser tomadas.

Se for o único meio, que assim seja excluído da igreja, ficando fora da proteção do Senhor e ficando exposto aos ataques do diabo. Ataques que são descritos no livro de Jó, quando este servo de Deus experimentou na carne a atividade satânica como doenças, aflições, perdas dos bens, etc. Em fim, toda sorte de aflições que com o decreto de Deus  Satanás às vezes pode infligir às pessoas para que o propósito de Deus seja feito. No caso, para este membro da igreja, o propósito era trazê-lo de volta ao seio da igreja através das aflições, angústias, dificuldades, e tribulações que Deus permitiria (decreto permissivo) que Satanás trouxesse a este membro em pecado. Ele deveria ser levado ao arrependimento, cair em si e voltar ao convívio da igreja.


B.     As Razões de Paulo Para a Disciplina Rígida

(1)   Porque o pecado é como o fermento (v. 6).

Se não cuidarmos ele se alastra e contamina toda a massa: “Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?”. Paulo usa uma linguagem muito comum no VT. No VT uma das coisas usadas para tipificar o pecado é o fermento. Tanto é que na celebração da páscoa era proibido se comer pão com fermento (o pão era “asmo” – sem fermento). O fermento era símbolo do pecado.

Uma das propriedades do fermento pelas quais ele tornou-se símbolo do pecado, é sua capacidade de aumentar e dominar o ambiente onde se encontra. Se colocado um pouco de fermento no pão que está sendo preparado logo levedará toda a massa. O apóstolo diz que o pecado é exatamente assim. A idéia é que, se deixado sem correção, no seio da igreja, sem que as devidas soluções sejam tomadas, o pecado se propaga.

O que pensar dos jovens da igreja de Corinto? O que eles estavam aprendendo quando viam aquele homem vivendo com a madrasta e ninguém dava importância? O que eles estavam aprendendo? Aprendiam, que aquela atitude não faz diferença na vida cristã e que não importa nosso comportamento sexual. Podemos continuar em pecado e como um cristão normal. Era essa a mensagem que estava sendo passada para os membros da igreja; que o pecado realmente não importava porque a igreja parecia aceitar normalmente.

(2)   O segundo argumento de Paulo está baseado na Páscoa (também vem do Velho Testamento). Aqui no v. 7 Paulo se refere a Cristo como sendo nossa Páscoa e que ele já foi imolado por nós.

Paulo compara a vida da igreja a uma grande Páscoa, a uma eterna festa. O nosso Cordeiro Pascal já foi imolado e nós já nos alimentamos dele e se vivemos em uma eterna Páscoa, não deve haver fermento. Tem de ser lançado fora os fermentos, a massa velha. Por isso Paulo diz: “Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa...” (v.7). A Igreja é a comunidade Pascal liderada, salva e resgatada por aquele que é a nossa Páscoa. Na festa da Páscoa não podia se ter pão com fermento. Essa é a figura que Paulo usa. Se há pão fermentado já não é mais Páscoa. No v. 8 Paulo diz da vida cristã que “celebremos a festa, não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia; e, sim, com os asmos da sinceridade e da verdade”. É só quando a sinceridade e a verdade prevalecem que nós verdadeiramente celebramos. Somos uma comunidade que celebra, que vive na alegria, no gozo da santidade do nosso Cordeiro.

É claro que Paulo não está pregando o perfeccionismo. Mas alguns podem ter esta idéia; Paulo não está pedindo que a igreja seja perfeita, mas sim que a igreja de Corinto tome as atitudes certas quando o pecado aparecer. O pecado vai aparecer, é verdade, e pode ser em minha vida e na sua, mas que a comunidade ajude o pecador com interesse de auxiliá-lo. Não devemos ficar falando mal e criticando mas que tomemos as providências bíblicas para ajudar aquele que caiu vítima do pecado. Celebremos a festa com os “asmos” da sinceridade e da verdade.

(3)   Vemos um outro princípio nos versos 9-12. Há um momento para uma separação santa.

Infelizmente há momentos em que somente uma separação resolve. A separação da comunidade colocada aqui por Paulo é daquele membro impenitente que não deseja arrepender-se. Parece que Paulo coloca este ponto em destaque (ele gasta vários versículos nisso) provavelmente porque ele sente que foi mal compreendido. Paulo já havia escrito uma primeira carta aos coríntios. Essa primeira carta que conhecemos é, na verdade, uma segunda carta, porque Paulo já havia escrito uma carta antes que foi perdida. Paulo faz menção desta primeira carta perdida no v. 9. Nesta primeiríssima carta ele já havia falado da necessidade de separação, de não haver associação entre o cristão e a impureza. “Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros”.

Aparentemente os coríntios haviam entendido que Paulo estava falando que os cristãos não deveriam ter qualquer contato com incrédulos. Por isso os coríntios concluíram que não haveria problema de ter associação com aquele irmão, mesmo que em gravíssimo pecado, visto que era “irmão”. Eles haviam pensado da primeira carta de Paulo que não deveriam se associar apenas com quem não fosse cristão. Paulo, então, corrige este equívoco e diz: “Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros; refiro-me com isto não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste caso teríeis de sair do mundo”. Paulo, aqui, está dizendo que não estava dizendo que não se associassem, ou mantivessem contato com este tipo de gente, com os pecadores deste mundo, porque, se assim fosse, teriam de sair do mundo. Paulo nunca sugeriu um gueto ou mosteiro, nem ao menos estava sugerindo que não convivessem com os não cristãos. O que Paulo diz é: “Mas agora vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com este tal nem ainda comais” (v.10). O que Paulo está dizendo é que não devemos nos associar com aquele que “dizendo-se irmão”, se fazendo passar por cristão, no meio da comunidade se comportem como não cristãos. A estes nem devemos convidar para uma refeição em nossas casas. Em outras palavras, há um momento em que é necessária uma separação clara e firme.

Paulo termina este terceiro princípio dizendo: “Pois com que direito haveria eu de julgar os de fora?” (5:12a).  Paulo está dizendo que não vai julgar os de fora que não são cristãos e que vivem em outro contexto. E então pergunta: “Não julgais vós os de dentro?” (v.12b). Paulo aqui deixa muito claro que julgar os “de dentro” é competência da igreja. Não vamos julgar os de fora, pois Deus os julgará. É isso que Paulo diz no versículo 13: “Os de fora, porém, Deus os julgará” (v.13a). Mas os de dentro sim; a comunidade julga os de dentro e toma as providências para recuperar o faltoso, o extraviado, para trazer de volta o que se desviou. E, se necessário for, para isso, a santa separação, que haja separação. Paulo conclui no v.13 dizendo: “Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor”.





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