segunda-feira, 23 de maio de 2011

O EVANGELHO DO PAI E DO FILHO [Parte II]


II.                   O PAI E O FILHO CONCORDEMENTE SUSTENTAM A IGREJA DERRAMANDO GRAÇA E PAZ

É comum fazermos saudações em nossas correspondências, tanto no início como no fim. Paulo então faz uma saudação com duas palavras-chave: “graça” e “paz”. No hebraico a saudação é shalom [paz] e os gregos saudavam com charis [graça]. Eram palavras comuns, mas aqui foi inundada com conteúdo cristão.  Paulo combinou as duas. Ao fazer assim ele resume com elas o evangelho do Pai e do Filho. A graça e paz tem sua origem no Pai e no Filho.

Eis duas grandes necessidades para a igreja pela qual devemos sempre rogar a Deus que ele derrame a fim de que sustente a igreja. Eis duas palavras que resumem e sintetizam os pontos vitais do evangelho.

1. A Graça que flui do Pai e do Filho é a Raiz da Salvação

Graça significa favor, boa vontade ou benevolência de origem divina, de uma forma imerecida e revelada na obra redentora de Cristo [Rm 5:1]. Ela é a fonte da nossa salvação. Nossa salvação não deriva de méritos pessoais, não foi estimulada porque Deus viu em nós algum merecimento, ela é antes de tudo fruto de seu favor, livre e soberano. A palavra esclarece a natureza da salvação. Ela não é um troféu ou um prêmio, mas um presente, ela não é fruto de nossa obra, mas resultado da obra que Deus fez em Cristo por nós. É o favor espontâneo e imerecido, benevolente e livre de Deus dando-se a si mesmo.

2.    A Paz que flui do Pai e do Filho é o Fruto da Salvação

Se graça é a raiz, paz é o fruto. Se graça é a fonte, a paz é o fluxo que corre desta fonte. A graça é a causa, a paz o efeito. É tão somente por causa da graça que temos paz. Mas o que vem a ser essa paz?

Paz tem a ideia comum de paz política ou cessação de hostilidades, harmonia, concórdia. Paz aqui com Deus [o fim da inimizade] e a paz de Deus. Somos reconciliados com Deus por meio de Cristo, por meio de sua morte.
A natureza de nossa salvação é paz com Deus, reconciliação. Nosso estado antes de Cristo é de inimizade, estranheza, rebeldia e alienação.  O favor soberano de Deus nos reconcilia através da cruz com Ele mesmo.
Ela é paz de Deus que é a convicção interior de que pela reconciliação estamos bem. A paz é uma benção de Cristo para sua igreja [Jo 14:27].

Essas palavras possuem um relacionamento e sua disposição não é acidental. Não podemos ter paz sem antes a graça ser ministrada a nós. Muitos querem a paz, mas para obterem essa paz a graça deve vir primeira. Não há paz, sem a graça. Não podemos anunciar a paz, os benefícios da salvação, sem antes anunciarmos a graça. O pecador precisa primeiramente ser reconciliado de seu estado de inimizade e isto é uma operação da graça divina. Ele precisa ter consciência de que é pecador e assim arrependa-se, seja salvo e assim desfrutar a paz.

Portanto, paz é um estado de alma, é uma percepção de que seu problema básico foi resolvido. É a benção daquele que olha para o passado e ver o perdão olha para o presente e ver sua providência divina e olha para o futuro e tem absoluta certeza de que mesmo a morte não o separa de Deus, antes o leva para junto dEle. Paz é uma benção da cruz. É absoluta confiança de que seu relacionamento foi restaurado. Uma paz que está além do mundo e que o mundo não conhece e nem pode dar.

Paulo pede graça e paz, pois elas são vitais para a saúde espiritual. Ele está preocupado com as reais necessidades espirituais e emocionais da igreja. Pois elas sustentam a igreja. Não há nada que recebemos da parte de Deus que não venha por graça. Ela não é só vital para o momento em que nos tornamos cristão, mas mesmos após a conversão estamos sujeitos ainda ao pecado, somos carentes da graça de Deus em Cristo.

S.T. O Pai e o Filho não só revelam seu amor em levantar pessoas que iram pregar o evangelho, não só sustentam a sua igreja com a graça e paz, vitais para a saúde espiritual e emocional da igreja, mas também ambos revelam todo o amor pela igreja porque...

III.                O PAI E O FILHO CONCORDEMENTE SÃO OS ORIGINADORES E REALIZADORES DA NOSSA OBRA DE REDENÇÃO [v.4-5]

Neste verso P. resume o conteúdo do evangelho focando na obra de Cristo. Eis três verdades:

1.      Cristo morreu pelos nossos pecados [A natureza do sacrifício de Cristo]

Cristo não foi a cruz por fraqueza, não foi cravado como um mártir, nem por um erro de planos. Ele foi crucificado porque ele voluntariamente se entregou por amor [Jo 10:11, 17,18]. A morte de Cristo não foi uma simples demonstração de amor e nem mesmo de heroísmo, mas foi um sacrifício pelo pecado. Foi uma morte em favor de alguém. O pecado é o nosso maior problema e sendo assim Cristo veio tratar por meio de sua morte este maior problema:

"Se Deus entendesse que a nossa maior necessidade era econômica, ele teria enviado um economista. Se ele entendesse que a nossa maior necessidade era entretenimento, ele teria enviado um comediante ou um artista. Se Deus tivesse percebido que a nossa maior necessidade era estabilidade política, teria enviado um político. Se ele tivesse percebido que a nossa maior necessidade era na área da saúde, ele teria enviado um médico. Mas ele entendeu que a nossa maior necessidade envolvia o nosso pecado, a nossa alienação dele, a nossa profunda rebelião, a nossa morte; e ele nos enviou um Salvador". (D. A. Carson).

Sua morte foi substitutiva, em favor de nós, Ele inocente, deixou ser executado como culpado, para que os culpados fossem perdoados. Sua morte foi uma oferta pelos nossos pecados. Foram os nossos pecados que o levou a cruz.

“Ele deu. O quê? Não ouro, nem prata, nem animais, nem sacrifício, nem cordeiro pascais, nem anjos, mas a si mesmo. Pelo quê? Não por uma coroa, nem por um reino, nem por nossa santidade ou justiça, mas pelos nossos pecados.” [Martinho Lutero]

2.      Cristo morreu para nos libertar deste mundo [O objetivo do sacrifício de Cristo]

Cristo morreu para nos libertar, nos desarraigar deste mundo. Sua morte visou nossa libertação. O homem antes de Cristo é um escravo deste sistema. Está acorrentado e preso ao mundo. Cristo morreu para nos alforriar.

O que está por trás deste sacrifício? Pressupõe que este mundo e os que estão presos a esse mundo corre grande risco, pois ele é mau. Pressupõe que somos por nós mesmos incapazes de nos libertar. Ele não morreu para nos tirar [somos sal e luz], temos que permanecer nele. Mas para que o nosso coração, a nossa alma não se devotasse e amasse tal sistema.

Mundo indica uma era, um sistema de prazeres e tesouros que passará. Ela é maligna, dominada pelo diabo e por homens sem Deus. Em contraste com este mundo que passará temos uma nova era que já foi inaugurada por Cristo e será em sua vinda consumada. O cristão vive sob esta tensão ou sob as duas era. A conversão nos liberta desta velha era [má] e nos transfere para a nova. Ser cristão é viver neste era má a vida da era vindoura.

Portanto o apelo joanino é fundamental “Não ameis o mundo...”[I Jo 2:15]. Estamos nele, mas não somos dele, Cristo morreu para nos libertar proporcionando assim uma nova vida.

3.      Cristo morreu de acordo com a vontade de Deus [A origem do sacrifício de Cristo]

O Filho dando a si mesmo para nossa redenção e isto de acordo com a vontade do Pai. O Filho não arranca a salvação para nós de um Deus relutante em perdoar os pecadores. O Pai não manda o Filho que vem a contragosto, sem sua vontade. Ambos estavam juntos neste plano.

A morte de Cristo foi à expressão de uma vontade. Ambos assim desejaram. Não foi acidental, nem foi tão pouco por que o diabo assim quis ou que as forças politicas e humanas prevaleceram, antes foi da vontade de Deus enviar seu Filho para morrer por nós. Tanto o nosso resgate como o meio foram planejados. Na cruz as vontades do Pai e do Filho estavam em perfeita harmonia.

Quem entregou o Filho a cruz? Não foi tão somente a ambição de Judas, a covardia de Pilatos, a rejeição dos judeus [seu povo] e a inveja dos religiosos e nem a força bruta dos soldados. Foi o Pai, foi o seu amor que não poupou seu próprio Filho, foi isto do querer do próprio Filho, que nos amou e a si mesmo se entregou por nós.

S.T. Cristo morreu em sacrifício pelo pecado, visando nos desarraigar deste mundo perverso e tudo isto teve origem num amoroso e maravilhoso plano, onde o Filho é enviado pela vontade do Pai.

Conclusão:

O Pai e o Filho por que nos ama, separa, vocaciona e envia os mensageiros, pois as pessoas precisam saber deste amor. Mas o que estes vão anunciar? Que Cristo morreu pelos nossos pecados para nos desarraigar deste mundo e isto era plano eterno de ambos. O dom da graça e da paz foi nos dado quando cremos, este dom nos sustenta e revela o grande amor de Deus por nós. O Pai e o Filho estavam juntos. Em chamar, em sustentar e no plano redentor. São ambos que enviam seus servos mensageiros, são ambos que dão a graça e a paz e são ambos que executam o plano de libertação dos nossos pecados e do mundo mau.

Como devemos reagir a tudo isto? Como? Como? Paulo revela como ele reagiu no v.5 “... a quem seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém!”

Adorar! Louvar! Glorificar a Deus Redentor! Sua bela teologia da cruz o leva a uma legítima e sincera adoração! Glória a Deus! Não só aqui! Glória a Deus pelos séculos dos séculos!  A pessoa que compreende este Evangelho rasgará a alma em sincera adoração. A adoração é uma mera consequência da compressão do Evangelho!

terça-feira, 17 de maio de 2011

O EVANGELHO DE DEUS PAI E DE DEUS FILHO [Parte I]


Gl 1:1-5

Introdução:

  Temos visto que há dois propósitos centrais na epístola de Gálatas. [1] Defesa da autoridade de Paulo [2] Defesa do Evangelho de Paulo. Aqui, já na introdução Paulo parte para uma vigorosa e apaixonante defesa de seu apostolado e seu evangelho. Aqui ele retrata o Pai e o Filho unidos no propósito eterno da salvação. A pessoa do Pai e do Filho repete-se três vezes. Tanto o Pai como o Filho estão interessados em nossa redenção. Deus não é visto como alguém relutante em nos abençoar, mas que é dobrado pelo Filho. E nem o Filho relutante em nos abençoar, mas que forçado a vir ao mundo contra sua vontade. Sob esta ótica percebemos que não há desarmonia destes na missão de salvação. O Filho não é visto como constrangendo o Pai em favor dos salvos e nem o Pai é visto como forçando o Filho a fazer algo que ele não deseja.

  Quero abordar o texto sob três elementos que compõe o evangelho precioso do Pai e do Filho...

[A estrutura homilética é de autoria do Pr. Antônio Carlos da Costa, IP da Barra, RJ]

I.                   O PAI E O FILHO CONCORDEMENTE VOCACIONAM E ENVIAM AQUELES QUE VÃO APRESENTAR O EVANGELHO [v.1]

1.      A Questão da Autoridade Apostólica

A.    Que são apóstolos? É importante a compreensão pois há muita confusão hoje sobre este assunto. Significa “enviado ou mensageiro”. Era um mensageiro especial, desfrutando de uma autoridade que vem da parte daquele que enviou. Há dois sentidos:

[1] Um delegado enviado numa missão especial. São exemplos destes Tiago, irmão do Senhor [Gl 1:19], mas é diferenciado em relação aos doze [I Co 9:5] e Barnabé [At 14:14] e Tito [II Co 8:23]

[2] Um mensageiro especial de homens especialmente escolhidos, chamados e comissionados ou enviados por Cristo, e autorizados a ensinar em seu nome. Sentido mais restrito cabendo exclusivamente aos doze. Eles não se auto intitulavam e nem se auto candidatavam. É diferente de um discípulo que podia ser chamado ou se predispunha a ser. No entanto Cristo chama-os entre os discípulos [Mt 10:1], pois nem todo discípulo é um apóstolo [veja Lc 6:12-13].  Não era um termo comum como “irmão” ou “cristão” ou “santo”. Era um termo reservado aos doze.

“...chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos”. [Lc 6:12-13]

B.     Quais as marcas e sinais de um apóstolo?

1.      Teria que ser testemunha do Senhor ressurreto.

Em Atos vemos os apóstolos reunidos no cenáculo conversando sobre quem substituiria a Judas Escariotes. No cap. 1:21-22 lemos: “É necessário pois, que, dos homens que nos acompanham todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós , começando no batismo de João, até ao dia em que dentre vós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição”.
Paulo diz que viu Jesus ressurreto: “Não sou, porventura livre? Não sou apóstolo? Não vi a Jesus, Nosso Senhor?” (I Co 9:1). Era ele dizendo que vira Jesus ressurreto no caminho de Damasco e era testemunha disto.


2.      Era alguém a quem foi dada autoridade e comissão de operar milagres.

Isso fica bem claro em II Co 12:12 - “Pois as credenciais do meu apostolado foram manifestados no meio de vós com toda a persistência, por sinais prodígios e poderes miraculosos”. Era como se ele dissesse: “Como vocês podem questionar meu ofício de apóstolo se as minhas credenciais foram apresentadas claramente entre vós”. Sinais, milagres e atos maravilhosos.

3.      O apóstolo tinha autoridade para ensinar e definir a doutrina firmando as pessoas na verdade.

Tiveram autoridade para estabelecer a ordem nas igrejas. Nomeavam os presbíteros, decidiam questões disciplinares e questões doutrinárias ( ensino e doutrina. Falavam com autoridade do próprio Jesus: “...mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito”(Jo 14:26).

4.      A verdade lhe foi ensinada pessoalmente pelo Senhor.

Em Gálatas 1:11-12 Paulo diz: “Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo”. Este evangelho não foi ensinado por outra pessoa, se fosse ele não seria apóstolo.

Devemos valorizar e submeter ao ensino apostólico. Examinar e sujeitar-se. Eles são referencia. Eles são fonte exclusiva e plena. Eles têm autoridade última na igreja através do NT. Eles são padrão na oração, na santidade, no ensino e na verdade.

C.     Paulo reivindica sua autoridade apostólica

Paulo, de uma forma enérgica e contundente, afirma que seu apostolado não tem origem humana, mas divina. Seu carimbo tem credencial divina, não meramente humana.  Ele se diferencia claramente dos demais irmãos [v.2]. Aqui ele chama os seus companheiros de irmãos e não de apóstolos. São irmãos e companheiros, mas ele é apóstolo. [I Co 1:1, Cl 1:1]

Por que tal defesa enérgica de seu apostolado? Era questão de vaidade pessoal? Era porque ao questionar sua autoridade questionava-se sua mensagem. Se ele é falso o evangelho por ele pregado é também. E era por isso que Paulo brigava. Se rejeitasse sua autoridade, rejeitariam o evangelho. Se o mensageiro é falso, sua mensagem o é. Era pelo zelo do evangelho que Paulo defendia sua autoridade.

Aplicações:

[1] Não há sucessão apostólica, devemos ser fiéis ao ensino apostólico, sua doutrina. Mas os apóstolos não tiveram sucessores. Ninguém poderia sucedê-los. Eles foram únicos. Portanto aqueles que reivindicam serem sucessores dos apóstolos não são não possuem tais credenciais. Assim toda a reivindicação de que o papa é sucessor legítimo dos apóstolos cai por terra. A igreja é apostólica na medida em que segue a doutrina dos apóstolos.

Paulo diz que a Igreja Cristã é edificada “...sobre o fundamento dos apóstolos é profetas...” (Ef 2:20). Com certeza não continuamos a construir qualquer fundamento ou alicerce, pois é algo do começo da igreja. Esse alicerce que foi fincado sobre os apóstolos e profetas não continua sendo edificado. Desde que o Cânon se completou, não há mais necessidade de apóstolos. Não esqueçamos de que o ensino apostólico era autoritativo. Os apóstolos falavam como homens enviados por Deus de maneira tão inspirada como os profetas do Velho Testamento.

Por isso, ao termos as Escrituras do Novo testamento — O Cânon do NT — já temos todo ensino autorizado e não precisamos mais de apóstolos. Quando o Cânon não estava completo, os apóstolos e aqueles que estavam ligados a eles tinham uma função importantíssima: instruir a igreja que não tinha Bíblia completa. Uma vez completo o Cânon os apóstolos não mais existem.

[2] Não são legítimos os apóstolos modernos. Toda pretensão de ser apóstolo hoje vai de encontro com o ensino do Novo Testamento acerca do sentido do termo. Paulo foi chamado para ser apóstolo como um ofício especial que não se repete.  Contrários aos verdadeiros, estes tais apóstolos são pseudoapóstolos. Quem se auto intitulam ou que são intitulados por meros homens. Tais títulos não podem ser mais dados uma vez que eles foram únicos. Existem termos legítimos para a liderança na igreja: Pastor ou Presbítero. Creio que estes tais apóstolos modernos arrogam para si estes títulos por vaidade ou para não serem questionados em suas palavras.

2.      A Questão da Vocação Pastoral

Embora não levante mais apóstolos, Deus chama, comissiona e envia homens para a honrosa missão de pregarem o Evangelho.  Eis a condição maior para o pastorado: Ser chamado. Eis a missão primária: Pregar o Evangelho.

Devemos louvar a Deus por tais homens vocacionados e capacitados. Deve-se orar e zelar por sua vida. Devemos ajudá-los para que cumpram primordialmente sua missão de pregar a Palavra. Eles devem esmera-se em fazer. Devem ser guardados e protegidos por meios das intercessões do povo de Deus.

No entanto é possível ter-se um pastor, mas não haver vocação. Assim como um pastor vocacionado por Deus é uma benção, constitui-se uma tragédia a presença de pessoas que não tem chamado na frente de igrejas. Homens que estão a frente de rebanhos sem espiritualidade, sem santidade e principalmente sem conhecimento da Palavra.

Um médico ou um advogado sem devida preparação ou conhecimento é algo perigoso e podem causar por isso danos terríveis a vida de pessoas. Se você não coloca sua vida nas mãos de uma pessoa assim, você ousa colocar sua vida espiritual nas mãos de homens sem o devido conhecimento da Palavra? Alguém disse: “A Bíblia nas mãos de pessoas não vocacionados é como uma navalha nas mãos de um bebe”. Eu digo que é bem pior! O conhecimento da Bíblia é fundamental [II Tm 2:15]

Não conhecer a doutrina é tragédia. Portanto sejamos criteriosos sobre esta questão. Há falastrões, falsos pastores, verdadeiros lobos que manipulam e que usam dos seus títulos para aproveitamento pessoal. Devemos lembrar que não podem ocupar o púlpito aqueles que fracassaram no lar. Pastores que tem filhos rebeldes não podem exercer o pastorado. Pastores divorciados também. Imagine amado um casal na igreja que luta para se manterem fiéis um ao outro e perseverarem no casamento perderiam todo o estímulo ao saber que o seu próprio pastor se separou da esposa e casou com outra. Terá ele autoridade em ajudar tal casal? Pastores que não conduzem sua própria família [núcleo simples] terão autoridade para conduzir um núcleo tão complexo como uma igreja?

Roguemos para que Deus envie homens para edificação da igreja... é uma benção ter um pastor que ama a verdade e as doutrinas. Tenha-o em alta estima. Respeite-o. Eu penso que a Reforma Protestante restaurou a doutrina do sacerdócio de todos os crentes, mas isto não pode significar que pastor e ovelhas são iguais. Num certo sentido são, mas em termos de autoridade e de responsabilidade não são. Lembre-se pastores vocacionados é uma expressão do grande amor de Deus para com seu povo.

Continua...


terça-feira, 10 de maio de 2011

EXPOSIÇÃO DE GÁLATAS - Uma Introdução




Introdução

É com grande alegria e honra que começo a exposição de Gálatas. Essa epistola é importantíssima pois é uma resposta de Deus aos erros que enfrentamos na igreja atualmente e é a síntese daquilo que é mais essencial na vida.

1.      Quem escreve? Paulo – Ele que fora o missionário aos gentios realizando 3 grandes viagens. Essa carta é fruto de alguma demanda ou questão de ordem teológica demonstrando pastoreio e cuidado.

2.      Quando escreve? Cerca de 48-49 d.C. É a sua primeira carta. 

3.      A quem escreve? Galácia – a região compreendida por quatro cidades da Psísidia: Antioquia, Icônio, Listra e Derbe que Paulo evangelizou durante sua primeira viagem missionária [At 13-14]. Portanto não é a uma igreja específica, mas a um conjunto de igrejas. Sendo que em cada cidade havia uma igreja. Uma carta, mas para várias igrejas. Compartilhavam comunhão e mesmos problemas.


4.      Para que escreve? Paulo escreve com vista a tratar duas questões [1] A questão de sua autoridade apostólica [2] A questão do evangelho por ele pregado.

Depois várias igrejas estabelecidas por ele naquela região, após a sua saída adentrou-se de forma de  por estas igrejas falsos mestres, que disseminaram um falso evangelho. Eles desencadearam um poderoso ataque contra Paulo, sua autoridade e seu evangelho.

Eles contestavam o evangelho da justificação pela graça mediante a fé, insistindo em que para se obter a salvação era necessário algo mais do que a fé em Cristo. Era necessário circuncidar-se e assim guardar a lei de Moisés [At 15:1,5] esse era o discurso dos judaizantes legalistas. Eles insistiam afirmando que para um gentio ser salvo eles precisavam antes de tudo se transformar num judeu. A fé em Cristo não é suficiente. Não só Cristo, mas Cristo e Moisés. Negando assim a suficiência da graça para a salvação. Quando Paulo viu que alguns crentes passaram a comprar essas ideias, a serem seduzidos e envolvidos nesse falso ensino ele então redigiu esta epistola. Isto no ensina que há determinadas verdades pelas quais vale a pena lutar e até mesmo dar nossa vida. É importante conhecermos doutrina. Quando ele viu a graça sendo banilizada e ameaçando a vida cristã, a liberdade a tentativa de “escravizar” de jub-julgar novamente os crentes a jugo da lei. Portanto os judaizantes da galacia estavam atacando não qualquer doutrina, mas uma das centrais na vida cristã: A doutrina da justificação pela fé em Cristo.

A Bíblia diz que o justo é o deleite. Deus só ouve a oração dos justos e que somente eles herdarão o reino de Deus. A questão é quem pode ser considerado justo aos olhos do Senhor? Quem é absolutamente justo? Ninguém. Quem é que cumpre perfeitamente a lei de Deus e que ama perfeitamente o próximo? Quem? Ninguém! A mensagem de Gálatas é essa que o Pai enviou seu Filho ao mundo para morrer por nós e cumprindo a lei por nós. E o Pai e considera a penalidade sofrida pelo Filho na Cruz como o nosso pagamento. Todos os nossos pecados. Imagine todos os seus pecados foram lançados nele. O justo juízo foi desviado para Cristo. Você não precisa temer o diabo, a morte, o inferno e a lei porque todos os seus pecados são perdoados mediante a fé na pessoa de Cristo. Deus considera a obediência de Cristo a sua. Essa mensagem é libertadora.

Para a fé cristã é justo somente aquele que recebeu Cristo como Senhor e Salvador de sua vida. Deus se deleita na vida do justo. Nenhum profano herdará o Reino de Deus. Só os justos herdarão a terra. Todavia essa justiça somente pode ser imputada em você pela fé, não pelas obras, moralidade ou mérito. Essa justiça pode ser recebida gratuitamente. Para isto basta você se arrepender e crer e você será justificado. Você não precisa se agarrar em suas obras, em penitencias para pagar seus pecados. Você para ser salvo não é preciso nada, não precisa dar dinheiro para essa igreja ou qualquer igreja. Pois ela é apropriada unicamente pela fé.

Eles tentavam consequentemente solapar a autoridade de Paulo como apóstolo e assim também destruir o seu evangelho. “Quem é esse Paulo? Quem pensa que ele é? Ele não é um dos doze e não tem nenhuma credencial apostólica. Ele não passa de um impostor que se autodenominou apóstolo”. Paulo ao perceber este duplo ataque, seu sangue ferver e assim desembainha sua pena, desenrola um papiro e escreve este magnifica e preciosa epistola que apresenta sua autoridade e a beleza do evangelho de Cristo.

5.      Quais as principais ênfases da carta? Liberdade cristã, justificação pela fé, suficiência da obra de Cristo e a obra do Espírito Santo

6.      Algumas peculiaridades de Gálatas: [1] Tom severo, vigoroso e apologético [2] Autobiográfico  [3] Conhecida como a carta magna da liberdade cristã.

Conclusão:

[1] Leia Gálatas várias vezes.
[2] Ore para que esta série de mensagens traga crescimento espeiritual e uma redescoberta do verdadeiro Evangelho de Cristo.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

ETERNAMENTE INSATISFEITOS

A palavra de Deus afirma que não devemos nos conformar com este século, mas sermos transformados pela renovação das nossas mentes [Rm 12]. Quando se pensa sobre esta formatação mundana advertida por Paulo geralmente se pensa que se trata de questões comportamentais, tais como: O cristão não deve vestir como os incrédulos, beber bebidas alcoólicas como eles, falar palavrões ou frequentar determinados lugares mundanos. No entanto mais do que comportamento, o apóstolo claramente aponta para a mente, ela é que não deve ser mundanizada. Interpretamos superficialmente o texto e assim o aplicamos de uma forma aquém em nossa vida.

Entre tantas nocivas formas de pensar que o mundo manifesta, quero dar destaque a uma em especial, a da eterna insatisfação. Esta manifestação é bem compreensiva no homem sem Deus. O pregador em Eclesiastes aborda isto. O pregador depois de buscar a alegria e a felicidade no vinho, na sabedoria, na realização de grandes obras, na edificação de casas e em plantações, na compra e aquisição de escravos e em coisas, na aquisição de riqueza, em investir sua vida no lazer, entretenimento, na diversão e arte continua insatisfeito. Em suas próprias palavras: “...E eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol. [Ec 2:11]. A conclusão do pregador ressoa como um martelo: É “vaidade”, ou seja, fútil ou vazio. Expressão esta que se repete 32 vezes em todo o livro.

Esta lacuna existencial bem exposta pelo pregador é demonstrada claramente no diálogo que Jesus teve com a mulher samaritana. Jesus apontou a infinita sede do ser como a raiz do problema na vida daquela mulher. Mostrando-a que sua insatisfação não derivava tão somente de não ter acertado com o homem de sua vida, uma vez que ela já tentara com seis homens. Sua sede persistente somente podia ser dessedentada através de Jesus. Jesus foi claro: Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva. [Jo 4:10]. Jesus no mesmo livro ratificou o semelhante pensamento exclamando: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva.[Jo 7:37-38]. Essa sede existencial foi muito bem captada pelo ensaísta inglês C. S. Lewis:

“Se eu encontro em mim um desejo que nenhuma experiência desse mundo possa satisfazer, a explicação mais provável é que eu fui feito para um outro mundo...Se nenhum dos meus prazeres terrenos é capaz de satisfazê-lo, isso não prova que o universo é uma fraude. Provavelmente os prazeres terrenos não têm o propósito de satisfazê-lo, mas somente de despertá-lo, de sugerir a coisa real. Se for assim, tenho de tomar cuidado para, por um lado, jamais desprezar ou ser ingrato em relação a essas bênçãos terrenas, e, por outro jamais confundi-lo com outra coisa, da qual elas não passam de um tipo de cópia, ou eco, ou miragem.”

Ou nas palavras do matemático, físico, filósofo e teólogo francês Blaise Pascal:

"Todas as pessoas buscam a felicidade. Não há exceção para isso. Sejam quais forem os meios diferentes que empreguem, todos objetivam esse alvo. A razão de alguns irem à guerra, e de outros a evitarem, é o mesmo desejo em ambos, visto de perspectivas diferentes. A vontade nunca dará o último passo em outra direção. Esse é o motivo de cada ação de todo ser humano, mesmo dos que se enforcam."

Portanto o homem possui intrinsicamente uma insatisfação permanente. Deus sabedor deste anseio faz o convite: Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas...” [Is 55:1] e o faz até o fim “O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida” [Ap  22:7]. Para os cristãos é nos dada à fonte que nos sacia, Deus na pessoa de Cristo! Embora nós aguardamos ansiosamente o por vir onde na glória é nos garantido que “... nunca mais terão sede...” [Ap 7:16], ali estaremos em Deus plena e eternamente satisfeitos, no entanto no aqui já podemos desfrutar Cristo como nosso maior deleite.

O problema, porém é perceber uma insatisfação permanente na vida daqueles que afirmam conhecer Jesus, é questionável a manifestação desta sede, pois se Cristo nos sacia porque a insatisfação permanece?  Por que tanto cristãos insatisfeitos? Por que tanta murmuração? Por que tanta busca por dinheiro, poder e prazer no mundo? Creio que parte da resposta esteja em conversões espúrias e a outra parte no pensar mundano. Por convivermos com um mundo insatisfeito acabamos por absolver parte desta insatisfação. Daí a extrema e urgente necessidade de acatarmos o apelo apostólico: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.  [Rm 12:2]. Somente uma mente renovada poderá afugentar a ameaçadora insatisfação mundana e experimentar com toda a alegria Deus e sua vontade.

Pr. Luiz Correia