II. O PAI E O FILHO CONCORDEMENTE SUSTENTAM A IGREJA DERRAMANDO GRAÇA E PAZ
É comum fazermos saudações em nossas correspondências, tanto no início como no fim. Paulo então faz uma saudação com duas palavras-chave: “graça” e “paz”. No hebraico a saudação é shalom [paz] e os gregos saudavam com charis [graça]. Eram palavras comuns, mas aqui foi inundada com conteúdo cristão. Paulo combinou as duas. Ao fazer assim ele resume com elas o evangelho do Pai e do Filho. A graça e paz tem sua origem no Pai e no Filho.
Eis duas grandes necessidades para a igreja pela qual devemos sempre rogar a Deus que ele derrame a fim de que sustente a igreja. Eis duas palavras que resumem e sintetizam os pontos vitais do evangelho.
1. A Graça que flui do Pai e do Filho é a Raiz da Salvação
Graça significa favor, boa vontade ou benevolência de origem divina, de uma forma imerecida e revelada na obra redentora de Cristo [Rm 5:1]. Ela é a fonte da nossa salvação. Nossa salvação não deriva de méritos pessoais, não foi estimulada porque Deus viu em nós algum merecimento, ela é antes de tudo fruto de seu favor, livre e soberano. A palavra esclarece a natureza da salvação. Ela não é um troféu ou um prêmio, mas um presente, ela não é fruto de nossa obra, mas resultado da obra que Deus fez em Cristo por nós. É o favor espontâneo e imerecido, benevolente e livre de Deus dando-se a si mesmo.
2. A Paz que flui do Pai e do Filho é o Fruto da Salvação
Se graça é a raiz, paz é o fruto. Se graça é a fonte, a paz é o fluxo que corre desta fonte. A graça é a causa, a paz o efeito. É tão somente por causa da graça que temos paz. Mas o que vem a ser essa paz?
Paz tem a ideia comum de paz política ou cessação de hostilidades, harmonia, concórdia. Paz aqui com Deus [o fim da inimizade] e a paz de Deus. Somos reconciliados com Deus por meio de Cristo, por meio de sua morte.
A natureza de nossa salvação é paz com Deus, reconciliação. Nosso estado antes de Cristo é de inimizade, estranheza, rebeldia e alienação. O favor soberano de Deus nos reconcilia através da cruz com Ele mesmo.
Ela é paz de Deus que é a convicção interior de que pela reconciliação estamos bem. A paz é uma benção de Cristo para sua igreja [Jo 14:27].
Essas palavras possuem um relacionamento e sua disposição não é acidental. Não podemos ter paz sem antes a graça ser ministrada a nós. Muitos querem a paz, mas para obterem essa paz a graça deve vir primeira. Não há paz, sem a graça. Não podemos anunciar a paz, os benefícios da salvação, sem antes anunciarmos a graça. O pecador precisa primeiramente ser reconciliado de seu estado de inimizade e isto é uma operação da graça divina. Ele precisa ter consciência de que é pecador e assim arrependa-se, seja salvo e assim desfrutar a paz.
Portanto, paz é um estado de alma, é uma percepção de que seu problema básico foi resolvido. É a benção daquele que olha para o passado e ver o perdão olha para o presente e ver sua providência divina e olha para o futuro e tem absoluta certeza de que mesmo a morte não o separa de Deus, antes o leva para junto dEle. Paz é uma benção da cruz. É absoluta confiança de que seu relacionamento foi restaurado. Uma paz que está além do mundo e que o mundo não conhece e nem pode dar.
Paulo pede graça e paz, pois elas são vitais para a saúde espiritual. Ele está preocupado com as reais necessidades espirituais e emocionais da igreja. Pois elas sustentam a igreja. Não há nada que recebemos da parte de Deus que não venha por graça. Ela não é só vital para o momento em que nos tornamos cristão, mas mesmos após a conversão estamos sujeitos ainda ao pecado, somos carentes da graça de Deus em Cristo.
S.T. O Pai e o Filho não só revelam seu amor em levantar pessoas que iram pregar o evangelho, não só sustentam a sua igreja com a graça e paz, vitais para a saúde espiritual e emocional da igreja, mas também ambos revelam todo o amor pela igreja porque...
III. O PAI E O FILHO CONCORDEMENTE SÃO OS ORIGINADORES E REALIZADORES DA NOSSA OBRA DE REDENÇÃO [v.4-5]
Neste verso P. resume o conteúdo do evangelho focando na obra de Cristo. Eis três verdades:
1. Cristo morreu pelos nossos pecados [A natureza do sacrifício de Cristo]
Cristo não foi a cruz por fraqueza, não foi cravado como um mártir, nem por um erro de planos. Ele foi crucificado porque ele voluntariamente se entregou por amor [Jo 10:11, 17,18]. A morte de Cristo não foi uma simples demonstração de amor e nem mesmo de heroísmo, mas foi um sacrifício pelo pecado. Foi uma morte em favor de alguém. O pecado é o nosso maior problema e sendo assim Cristo veio tratar por meio de sua morte este maior problema:
"Se Deus entendesse que a nossa maior necessidade era econômica, ele teria enviado um economista. Se ele entendesse que a nossa maior necessidade era entretenimento, ele teria enviado um comediante ou um artista. Se Deus tivesse percebido que a nossa maior necessidade era estabilidade política, teria enviado um político. Se ele tivesse percebido que a nossa maior necessidade era na área da saúde, ele teria enviado um médico. Mas ele entendeu que a nossa maior necessidade envolvia o nosso pecado, a nossa alienação dele, a nossa profunda rebelião, a nossa morte; e ele nos enviou um Salvador". (D. A. Carson).
Sua morte foi substitutiva, em favor de nós, Ele inocente, deixou ser executado como culpado, para que os culpados fossem perdoados. Sua morte foi uma oferta pelos nossos pecados. Foram os nossos pecados que o levou a cruz.
“Ele deu. O quê? Não ouro, nem prata, nem animais, nem sacrifício, nem cordeiro pascais, nem anjos, mas a si mesmo. Pelo quê? Não por uma coroa, nem por um reino, nem por nossa santidade ou justiça, mas pelos nossos pecados.” [Martinho Lutero]
2. Cristo morreu para nos libertar deste mundo [O objetivo do sacrifício de Cristo]
Cristo morreu para nos libertar, nos desarraigar deste mundo. Sua morte visou nossa libertação. O homem antes de Cristo é um escravo deste sistema. Está acorrentado e preso ao mundo. Cristo morreu para nos alforriar.
O que está por trás deste sacrifício? Pressupõe que este mundo e os que estão presos a esse mundo corre grande risco, pois ele é mau. Pressupõe que somos por nós mesmos incapazes de nos libertar. Ele não morreu para nos tirar [somos sal e luz], temos que permanecer nele. Mas para que o nosso coração, a nossa alma não se devotasse e amasse tal sistema.
Mundo indica uma era, um sistema de prazeres e tesouros que passará. Ela é maligna, dominada pelo diabo e por homens sem Deus. Em contraste com este mundo que passará temos uma nova era que já foi inaugurada por Cristo e será em sua vinda consumada. O cristão vive sob esta tensão ou sob as duas era. A conversão nos liberta desta velha era [má] e nos transfere para a nova. Ser cristão é viver neste era má a vida da era vindoura.
Portanto o apelo joanino é fundamental “Não ameis o mundo...”[I Jo 2:15]. Estamos nele, mas não somos dele, Cristo morreu para nos libertar proporcionando assim uma nova vida.
3. Cristo morreu de acordo com a vontade de Deus [A origem do sacrifício de Cristo]
O Filho dando a si mesmo para nossa redenção e isto de acordo com a vontade do Pai. O Filho não arranca a salvação para nós de um Deus relutante em perdoar os pecadores. O Pai não manda o Filho que vem a contragosto, sem sua vontade. Ambos estavam juntos neste plano.
A morte de Cristo foi à expressão de uma vontade. Ambos assim desejaram. Não foi acidental, nem foi tão pouco por que o diabo assim quis ou que as forças politicas e humanas prevaleceram, antes foi da vontade de Deus enviar seu Filho para morrer por nós. Tanto o nosso resgate como o meio foram planejados. Na cruz as vontades do Pai e do Filho estavam em perfeita harmonia.
Quem entregou o Filho a cruz? Não foi tão somente a ambição de Judas, a covardia de Pilatos, a rejeição dos judeus [seu povo] e a inveja dos religiosos e nem a força bruta dos soldados. Foi o Pai, foi o seu amor que não poupou seu próprio Filho, foi isto do querer do próprio Filho, que nos amou e a si mesmo se entregou por nós.
S.T. Cristo morreu em sacrifício pelo pecado, visando nos desarraigar deste mundo perverso e tudo isto teve origem num amoroso e maravilhoso plano, onde o Filho é enviado pela vontade do Pai.
Conclusão:
O Pai e o Filho por que nos ama, separa, vocaciona e envia os mensageiros, pois as pessoas precisam saber deste amor. Mas o que estes vão anunciar? Que Cristo morreu pelos nossos pecados para nos desarraigar deste mundo e isto era plano eterno de ambos. O dom da graça e da paz foi nos dado quando cremos, este dom nos sustenta e revela o grande amor de Deus por nós. O Pai e o Filho estavam juntos. Em chamar, em sustentar e no plano redentor. São ambos que enviam seus servos mensageiros, são ambos que dão a graça e a paz e são ambos que executam o plano de libertação dos nossos pecados e do mundo mau.
Como devemos reagir a tudo isto? Como? Como? Paulo revela como ele reagiu no v.5 “... a quem seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém!”
Adorar! Louvar! Glorificar a Deus Redentor! Sua bela teologia da cruz o leva a uma legítima e sincera adoração! Glória a Deus! Não só aqui! Glória a Deus pelos séculos dos séculos! A pessoa que compreende este Evangelho rasgará a alma em sincera adoração. A adoração é uma mera consequência da compressão do Evangelho!