sexta-feira, 6 de maio de 2011

ETERNAMENTE INSATISFEITOS

A palavra de Deus afirma que não devemos nos conformar com este século, mas sermos transformados pela renovação das nossas mentes [Rm 12]. Quando se pensa sobre esta formatação mundana advertida por Paulo geralmente se pensa que se trata de questões comportamentais, tais como: O cristão não deve vestir como os incrédulos, beber bebidas alcoólicas como eles, falar palavrões ou frequentar determinados lugares mundanos. No entanto mais do que comportamento, o apóstolo claramente aponta para a mente, ela é que não deve ser mundanizada. Interpretamos superficialmente o texto e assim o aplicamos de uma forma aquém em nossa vida.

Entre tantas nocivas formas de pensar que o mundo manifesta, quero dar destaque a uma em especial, a da eterna insatisfação. Esta manifestação é bem compreensiva no homem sem Deus. O pregador em Eclesiastes aborda isto. O pregador depois de buscar a alegria e a felicidade no vinho, na sabedoria, na realização de grandes obras, na edificação de casas e em plantações, na compra e aquisição de escravos e em coisas, na aquisição de riqueza, em investir sua vida no lazer, entretenimento, na diversão e arte continua insatisfeito. Em suas próprias palavras: “...E eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol. [Ec 2:11]. A conclusão do pregador ressoa como um martelo: É “vaidade”, ou seja, fútil ou vazio. Expressão esta que se repete 32 vezes em todo o livro.

Esta lacuna existencial bem exposta pelo pregador é demonstrada claramente no diálogo que Jesus teve com a mulher samaritana. Jesus apontou a infinita sede do ser como a raiz do problema na vida daquela mulher. Mostrando-a que sua insatisfação não derivava tão somente de não ter acertado com o homem de sua vida, uma vez que ela já tentara com seis homens. Sua sede persistente somente podia ser dessedentada através de Jesus. Jesus foi claro: Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva. [Jo 4:10]. Jesus no mesmo livro ratificou o semelhante pensamento exclamando: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva.[Jo 7:37-38]. Essa sede existencial foi muito bem captada pelo ensaísta inglês C. S. Lewis:

“Se eu encontro em mim um desejo que nenhuma experiência desse mundo possa satisfazer, a explicação mais provável é que eu fui feito para um outro mundo...Se nenhum dos meus prazeres terrenos é capaz de satisfazê-lo, isso não prova que o universo é uma fraude. Provavelmente os prazeres terrenos não têm o propósito de satisfazê-lo, mas somente de despertá-lo, de sugerir a coisa real. Se for assim, tenho de tomar cuidado para, por um lado, jamais desprezar ou ser ingrato em relação a essas bênçãos terrenas, e, por outro jamais confundi-lo com outra coisa, da qual elas não passam de um tipo de cópia, ou eco, ou miragem.”

Ou nas palavras do matemático, físico, filósofo e teólogo francês Blaise Pascal:

"Todas as pessoas buscam a felicidade. Não há exceção para isso. Sejam quais forem os meios diferentes que empreguem, todos objetivam esse alvo. A razão de alguns irem à guerra, e de outros a evitarem, é o mesmo desejo em ambos, visto de perspectivas diferentes. A vontade nunca dará o último passo em outra direção. Esse é o motivo de cada ação de todo ser humano, mesmo dos que se enforcam."

Portanto o homem possui intrinsicamente uma insatisfação permanente. Deus sabedor deste anseio faz o convite: Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas...” [Is 55:1] e o faz até o fim “O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida” [Ap  22:7]. Para os cristãos é nos dada à fonte que nos sacia, Deus na pessoa de Cristo! Embora nós aguardamos ansiosamente o por vir onde na glória é nos garantido que “... nunca mais terão sede...” [Ap 7:16], ali estaremos em Deus plena e eternamente satisfeitos, no entanto no aqui já podemos desfrutar Cristo como nosso maior deleite.

O problema, porém é perceber uma insatisfação permanente na vida daqueles que afirmam conhecer Jesus, é questionável a manifestação desta sede, pois se Cristo nos sacia porque a insatisfação permanece?  Por que tanto cristãos insatisfeitos? Por que tanta murmuração? Por que tanta busca por dinheiro, poder e prazer no mundo? Creio que parte da resposta esteja em conversões espúrias e a outra parte no pensar mundano. Por convivermos com um mundo insatisfeito acabamos por absolver parte desta insatisfação. Daí a extrema e urgente necessidade de acatarmos o apelo apostólico: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.  [Rm 12:2]. Somente uma mente renovada poderá afugentar a ameaçadora insatisfação mundana e experimentar com toda a alegria Deus e sua vontade.

Pr. Luiz Correia

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