Gl 1:1-5
Introdução:
Temos visto que há dois propósitos centrais na epístola de Gálatas. [1] Defesa da autoridade de Paulo [2] Defesa do Evangelho de Paulo. Aqui, já na introdução Paulo parte para uma vigorosa e apaixonante defesa de seu apostolado e seu evangelho. Aqui ele retrata o Pai e o Filho unidos no propósito eterno da salvação. A pessoa do Pai e do Filho repete-se três vezes. Tanto o Pai como o Filho estão interessados em nossa redenção. Deus não é visto como alguém relutante em nos abençoar, mas que é dobrado pelo Filho. E nem o Filho relutante em nos abençoar, mas que forçado a vir ao mundo contra sua vontade. Sob esta ótica percebemos que não há desarmonia destes na missão de salvação. O Filho não é visto como constrangendo o Pai em favor dos salvos e nem o Pai é visto como forçando o Filho a fazer algo que ele não deseja.
Quero abordar o texto sob três elementos que compõe o evangelho precioso do Pai e do Filho...
[A estrutura homilética é de autoria do Pr. Antônio Carlos da Costa, IP da Barra, RJ]
I. O PAI E O FILHO CONCORDEMENTE VOCACIONAM E ENVIAM AQUELES QUE VÃO APRESENTAR O EVANGELHO [v.1]
1. A Questão da Autoridade Apostólica
A. Que são apóstolos? É importante a compreensão pois há muita confusão hoje sobre este assunto. Significa “enviado ou mensageiro”. Era um mensageiro especial, desfrutando de uma autoridade que vem da parte daquele que enviou. Há dois sentidos:
[1] Um delegado enviado numa missão especial. São exemplos destes Tiago, irmão do Senhor [Gl 1:19], mas é diferenciado em relação aos doze [I Co 9:5] e Barnabé [At 14:14] e Tito [II Co 8:23]
[2] Um mensageiro especial de homens especialmente escolhidos, chamados e comissionados ou enviados por Cristo, e autorizados a ensinar em seu nome. Sentido mais restrito cabendo exclusivamente aos doze. Eles não se auto intitulavam e nem se auto candidatavam. É diferente de um discípulo que podia ser chamado ou se predispunha a ser. No entanto Cristo chama-os entre os discípulos [Mt 10:1], pois nem todo discípulo é um apóstolo [veja Lc 6:12-13]. Não era um termo comum como “irmão” ou “cristão” ou “santo”. Era um termo reservado aos doze.
“...chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos”. [Lc 6:12-13]
B. Quais as marcas e sinais de um apóstolo?
1. Teria que ser testemunha do Senhor ressurreto.
Em Atos vemos os apóstolos reunidos no cenáculo conversando sobre quem substituiria a Judas Escariotes. No cap. 1:21-22 lemos: “É necessário pois, que, dos homens que nos acompanham todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós , começando no batismo de João, até ao dia em que dentre vós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição”.
Paulo diz que viu Jesus ressurreto: “Não sou, porventura livre? Não sou apóstolo? Não vi a Jesus, Nosso Senhor?” (I Co 9:1). Era ele dizendo que vira Jesus ressurreto no caminho de Damasco e era testemunha disto.
2. Era alguém a quem foi dada autoridade e comissão de operar milagres.
Isso fica bem claro em II Co 12:12 - “Pois as credenciais do meu apostolado foram manifestados no meio de vós com toda a persistência, por sinais prodígios e poderes miraculosos”. Era como se ele dissesse: “Como vocês podem questionar meu ofício de apóstolo se as minhas credenciais foram apresentadas claramente entre vós”. Sinais, milagres e atos maravilhosos.
3. O apóstolo tinha autoridade para ensinar e definir a doutrina firmando as pessoas na verdade.
Tiveram autoridade para estabelecer a ordem nas igrejas. Nomeavam os presbíteros, decidiam questões disciplinares e questões doutrinárias ( ensino e doutrina. Falavam com autoridade do próprio Jesus: “...mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito”(Jo 14:26).
4. A verdade lhe foi ensinada pessoalmente pelo Senhor.
Em Gálatas 1:11-12 Paulo diz: “Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo”. Este evangelho não foi ensinado por outra pessoa, se fosse ele não seria apóstolo.
Devemos valorizar e submeter ao ensino apostólico. Examinar e sujeitar-se. Eles são referencia. Eles são fonte exclusiva e plena. Eles têm autoridade última na igreja através do NT. Eles são padrão na oração, na santidade, no ensino e na verdade.
C. Paulo reivindica sua autoridade apostólica
Paulo, de uma forma enérgica e contundente, afirma que seu apostolado não tem origem humana, mas divina. Seu carimbo tem credencial divina, não meramente humana. Ele se diferencia claramente dos demais irmãos [v.2]. Aqui ele chama os seus companheiros de irmãos e não de apóstolos. São irmãos e companheiros, mas ele é apóstolo. [I Co 1:1, Cl 1:1]
Por que tal defesa enérgica de seu apostolado? Era questão de vaidade pessoal? Era porque ao questionar sua autoridade questionava-se sua mensagem. Se ele é falso o evangelho por ele pregado é também. E era por isso que Paulo brigava. Se rejeitasse sua autoridade, rejeitariam o evangelho. Se o mensageiro é falso, sua mensagem o é. Era pelo zelo do evangelho que Paulo defendia sua autoridade.
Aplicações:
[1] Não há sucessão apostólica, devemos ser fiéis ao ensino apostólico, sua doutrina. Mas os apóstolos não tiveram sucessores. Ninguém poderia sucedê-los. Eles foram únicos. Portanto aqueles que reivindicam serem sucessores dos apóstolos não são não possuem tais credenciais. Assim toda a reivindicação de que o papa é sucessor legítimo dos apóstolos cai por terra. A igreja é apostólica na medida em que segue a doutrina dos apóstolos.
Paulo diz que a Igreja Cristã é edificada “...sobre o fundamento dos apóstolos é profetas...” (Ef 2:20). Com certeza não continuamos a construir qualquer fundamento ou alicerce, pois é algo do começo da igreja. Esse alicerce que foi fincado sobre os apóstolos e profetas não continua sendo edificado. Desde que o Cânon se completou, não há mais necessidade de apóstolos. Não esqueçamos de que o ensino apostólico era autoritativo. Os apóstolos falavam como homens enviados por Deus de maneira tão inspirada como os profetas do Velho Testamento.
Por isso, ao termos as Escrituras do Novo testamento — O Cânon do NT — já temos todo ensino autorizado e não precisamos mais de apóstolos. Quando o Cânon não estava completo, os apóstolos e aqueles que estavam ligados a eles tinham uma função importantíssima: instruir a igreja que não tinha Bíblia completa. Uma vez completo o Cânon os apóstolos não mais existem.
[2] Não são legítimos os apóstolos modernos. Toda pretensão de ser apóstolo hoje vai de encontro com o ensino do Novo Testamento acerca do sentido do termo. Paulo foi chamado para ser apóstolo como um ofício especial que não se repete. Contrários aos verdadeiros, estes tais apóstolos são pseudoapóstolos. Quem se auto intitulam ou que são intitulados por meros homens. Tais títulos não podem ser mais dados uma vez que eles foram únicos. Existem termos legítimos para a liderança na igreja: Pastor ou Presbítero. Creio que estes tais apóstolos modernos arrogam para si estes títulos por vaidade ou para não serem questionados em suas palavras.
2. A Questão da Vocação Pastoral
Embora não levante mais apóstolos, Deus chama, comissiona e envia homens para a honrosa missão de pregarem o Evangelho. Eis a condição maior para o pastorado: Ser chamado. Eis a missão primária: Pregar o Evangelho.
Devemos louvar a Deus por tais homens vocacionados e capacitados. Deve-se orar e zelar por sua vida. Devemos ajudá-los para que cumpram primordialmente sua missão de pregar a Palavra. Eles devem esmera-se em fazer. Devem ser guardados e protegidos por meios das intercessões do povo de Deus.
No entanto é possível ter-se um pastor, mas não haver vocação. Assim como um pastor vocacionado por Deus é uma benção, constitui-se uma tragédia a presença de pessoas que não tem chamado na frente de igrejas. Homens que estão a frente de rebanhos sem espiritualidade, sem santidade e principalmente sem conhecimento da Palavra.
Um médico ou um advogado sem devida preparação ou conhecimento é algo perigoso e podem causar por isso danos terríveis a vida de pessoas. Se você não coloca sua vida nas mãos de uma pessoa assim, você ousa colocar sua vida espiritual nas mãos de homens sem o devido conhecimento da Palavra? Alguém disse: “A Bíblia nas mãos de pessoas não vocacionados é como uma navalha nas mãos de um bebe”. Eu digo que é bem pior! O conhecimento da Bíblia é fundamental [II Tm 2:15]
Não conhecer a doutrina é tragédia. Portanto sejamos criteriosos sobre esta questão. Há falastrões, falsos pastores, verdadeiros lobos que manipulam e que usam dos seus títulos para aproveitamento pessoal. Devemos lembrar que não podem ocupar o púlpito aqueles que fracassaram no lar. Pastores que tem filhos rebeldes não podem exercer o pastorado. Pastores divorciados também. Imagine amado um casal na igreja que luta para se manterem fiéis um ao outro e perseverarem no casamento perderiam todo o estímulo ao saber que o seu próprio pastor se separou da esposa e casou com outra. Terá ele autoridade em ajudar tal casal? Pastores que não conduzem sua própria família [núcleo simples] terão autoridade para conduzir um núcleo tão complexo como uma igreja?
Roguemos para que Deus envie homens para edificação da igreja... é uma benção ter um pastor que ama a verdade e as doutrinas. Tenha-o em alta estima. Respeite-o. Eu penso que a Reforma Protestante restaurou a doutrina do sacerdócio de todos os crentes, mas isto não pode significar que pastor e ovelhas são iguais. Num certo sentido são, mas em termos de autoridade e de responsabilidade não são. Lembre-se pastores vocacionados é uma expressão do grande amor de Deus para com seu povo.
Continua...
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