O EVANGELHO QUE NOS GUARDA DE TROPEÇAR!
Gl 3:1-5
Introdução
Paulo está defendendo a doutrina da graça tão fundamental para a vida cristã. Até então ele usou argumentos doutrinários agora ele lança mão da própria experiência dos gálatas em sua vida cristã para sua defesa. É importante lembrar que a Igreja da Galácia via-se ameaçada pela presença dos judaizantes que estavam minando a fé dos gálatas ensinando que o homem não era justificado somente pela fé, mas também pela lei, era lei + fé, não fé somente. Aqui ele defende a JPF usando a maneira [o modus operandi] de Deus na atividade de salvar o pecador, ou seja, a experiência da conversão.
Eles mesmos, os gálatas, foram testemunhas em sua própria vida como Deus operou neles e como o evangelhos e seus consequentes resultados se manifestou. Paulo então usa esta experiência para tentar corrigir a rota de desvio que eles estavam tomando ao serem levados para uma vida cristã fundamentada no legalismo [nas obras] como meio de justificação pela fé.
I. A AMEAÇA DO DESVIO
Há várias ameaças que podem causar terríveis prejuízos a caminhada cristã. A vida cristã tem vários inimigos e obstáculos e constantemente nos veremos frente a uma ameaça que tentará nos barrar de chegarmos até o fim. A questão da salvação pelas obras, é um dos obstáculos que antecedem a conversão é um inimigo constante e profundamente ameaçador em nosso carreira cristã. Paulo chama atenção aos gálatas deste perigo terrível falando sobre dois aspectos da natureza de legalismo.
- P. inicia com palavras fortes de exortação [não é insulto, mas um estado de perplexidade pastoral ou paternal] e segue com uma série de 5 perguntas retóricas e confrontadoras tendo como alvo eles perceberem a perigosa situação em que se encontram, pois estavam se desviando da fé cristã. É como P. estivesse num tribunal e questiona a incoerência dos descaminhos que eles estavam tomando. Ele aponta duas condições terríveis de eles estarem sendo seduzidos pelo legalismo se afastando da pregação da JPS.
a. O legalismo nos torna insensatos
Os gálatas estavam abandonando a confiança em Cristo, foram capitulados pela mensagem dos judaizantes e se estribando em sua própria justiça como meio de serem salvos e esta atitude os torna insensatos. É simplesmente um ato insano, absurdo, louco [v.1,3]. É irracional, é tolice, é loucura o que vejo que ocorre com vocês.
Há certa irracionalidade no desvio da fé cristã. Os que se afastam da fé cristã estão cometendo um ato de insensatez, de demência espiritual.
O que levou a esta irracionalidade ou loucura?
b. O legalismo nos fascina
Sempre há algo que atrai e seduz [o canto da sereia] tentando-nos na nossa caminhada cristã, fazendo nos desviar. Aqui no caso foi o legalismo. O legalismo exerce um poderoso fascínio sobre a natureza humana. Paulo fala em termo de “feitiço”, ele nubla a mente. Deixaram-se impressionar por ela, praticamente hipnotizar.
O homem fica fascinado com a ideia de ser capaz de produzir sua própria justificação, sente-se atraído pela a aparência da piedade e do zelo pelas tradições e regras religiosas, busca a aprovação e admiração dos homens [fariseus]. O legalismo impressiona as massas, o religiosíssimo é sedutor, pois apresenta ares de santidade. É apenas exterior, nada interior. Eis porque a justificação pela fé não parece ser muito atraente e a salvação pelas obras mais sedutora porque ela fascina, impressiona os outros.
Eles haviam crido inicialmente e aceito a JPF, mas com os ataques dos judaizantes se sentiram seduzidos e iniciou-se assim um processo de queda ou desvio da fé.
ARA Galatians 1:6 Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho,
ARA Galatians 4:9 mas agora que conheceis a Deus ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como estais voltando, outra vez, aos rudimentos fracos e pobres, aos quais, de novo, quereis ainda escravizar-vos?
ARA Galatians 5:7 Vós corríeis bem; quem vos impediu de continuardes a obedecer à verdade? 8 Esta persuasão não vem daquele que vos chama.
Eis um perigo ameaçador na vida cristã, manter-se firme na verdade do evangelho. É a compreensão constante da JPF aliada a mensagem do Evangelho que nos guarda, nos previne e nos faz ser protegidos contra o abandono e a deserção da fé.
Um dado interessante chamou atenção no último censo do IBGE, cresce cada dia o número de pessoas ditas evangélicas que afirmam serem crentes, mas que não possuem vínculos com nenhuma igreja. São o que Nicodemus chamou de “Desigrejados” ou “Evangélicos Genéricos” ou “Evangélicos não Praticantes.” O perfil destes é caracterizado por um ecletismo religioso e a meu ver uma completa ausência de compreensão do evangelho, de doutrina, de pastoreio. Os dados apontam que subiu de 4% para 14%, um salto de 4 milhões de pessoas o número destes tipos.
Largar bem, continuar bem, concluir bem!!! Eis o desafio da carreira cristã. E como fazer isto, como se manter firme, como não ser contado nas fileiras daqueles que um dia tiveram um grande amor, experimentaram a verdade do evangelho, foram envolvidos no ambiente da fé e se deixaram se perder em sua caminhada?
E o que ocorreu para que eles fossem fascinados pelo legalismo? O que os gálatas fizeram a correrem tamanho riscos espiritual?
II. A PREVENÇÃO AO DESVIO
Paulo fala de duas experiências vitais que devem ser consideradas e compreendidas para que estas nos previnam de quedas e desvios em nossa jornada cristã.
a. A contemplação da Cruz – A compreensão da Cruz
A perplexidade de Paulo diante do afastamento da fé e do desvio dos gálatas é porque, Paulo apresentaram Jesus Cristo crucificado aos seus olhos. Como podem vocês estarem se afastando da fé, uma vez que a vocês foi pregado a mensagem da cruz diante de seus olhos. Cristo foi exposto [desenhado, teatralizado, pintado].
Há cerca de cinco anos antes, a pregação de Paulo ocupou irresistivelmente o espaço de vida dos leitores da carta, eles foram arrebatados pela mensagem da cruz, essa mensagem foi confirmada por manifestações espirituais e frutos (v. 4,5). O evangelho evidenciou-se como poder e criou, do nada, nova existência, a saber, uma igreja de fé e júbilo (Gl 4.15). Um fato desses, afinal, não se esquece!
Mas eles foram seduzidos e levados a tirar os olhos da cruz e assim estavam se afastando. Eis a maior necessidade de pregar e de se manter pregando Cristo crucificado [ceia do Senhor]
A mensagem da cruz é a verdade mais central da fé cristã [espinha dorsal]. Ela não é somente a mensagem que nos leva a conversão, que nos transforma e que nos livra da culpa e do inferno [legal], mas ela é também nos guarda, nos sustenta, nos mantém protegidos contra quedas e desvios.
Note que não qualquer doutrina ou ensinamento [embora todos sejam importantes] o centro e o pilar de toda doutrina esta na mensagem da cruz. A essência do evangelho é Cristo crucificado. O tempo verbal crucificado aponta que a obra de Cristo fora realizada no passado, mas os benefícios são sempre atuais, válidos e disponíveis.
Assim não é qualquer aspecto sobre Cristo, não é Cristo na manjedoura, não é Cristo, o mestre, não é o Cristo, o operador de milagres, não é o Cristo, amigo, companheiro, nem tão pouco sua vida irrepreensível e correta, não a mensagem central é Cristo, crucificado.
Em 1Co 2.2 Paulo até afirma mais incisivamente: “Pois decidi nada saber entre vocês, a não ser Jesus Cristo, e este crucificado” (nvi).
Cristo crucificado é a essência do Evangelho, este não um bom conselho aos homens, não é um convite para se fazer alguma coisa, mas a declaração do que Deus já fez, não é uma exigência, mas uma oferta. [J.Stott]
Precisamos estarmos sempre ouvindo, olhando, apreciando a mensagem da cruz. Ela não é uma necessidade apenas do mundo caído, do incrédulo, mas do crente. E toda vez que deixamos de olhar e contemplarmos a cruz algo vai seduzir nosso coração, algo vai tomar nossa alma [poder, dinheiro, sexo].
Paulo enfatiza sempre o modo pelo qual Jesus morreu [Fp 2:8 “obediente até à morte e morte de cruz”.] Por que Paulo apresenta esse instrumento de execução. O peculiar numa execução dessas era seu grau máximo de vergonha e desprezo. A cruz tira a credibilidade. Por isso os transeuntes, conforme Mt 27.39-43, apenas podiam menear a cabeça: “Ele é o Rei de Israel, não é? Se descer agora mesmo da cruz, nós creremos nele!” (blh). Como uma mensagem de vergonha, desprezo pode ser uma palavra de salvação? Nada em nós seres humanos está predisposto para essa mensagem, naturalmente veremos ela como algo escandaloso [a mensagem da cruz é loucura]. Mas como podemos então contemplar a cruz e nela se gloriar como nosso único meio de salvação, perdão e reconciliação? Como? Somente por meio de uma intervenção do Espírito Santo, que revela Cristo, por meio de uma ação do Espirito.
b. A Obra do Espírito Santo
Paulo então expõe aspectos da pessoa e da obra do Espírito. É importante que examinemos e consideremos estes aspectos, visto que a Pessoa e a Obra do Espírito Santo têm sido notadamente enfatizadas em determinados círculos religiosos, e a meu ver o discernimento de tal ação atribuída ao Espírito nada tem a ver com a verdade do Evangelho:
1. Receber o Espirito Santo faz parte da descrição normal de como alguém se torna cristão [Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele - Rm 8.9b]. O início da vida cristã se dá mediante o habitar do Espírito. Não existe cabimento a doutrina pentecostal de que há uma necessidade de uma segunda benção [chamada de Batismo no Espírito Santo] que ocorre subsequente a conversão. Um aspecto natural e normal é que a conversão implica em receber o Espirito Santo.
O recebimento do Espirito Santo não vem mediante jejuns e orações em montes ou regras religiosas, pois o Espírito não dado por obras [v.2]
2. O recebimento do Espírito está combinado com a mensagem da cruz. A vinda, o recebimento [batismo] do Espirito Santo ocorre mediante a pregação do Evangelho. Deus honra com Seu Espirito e o enche de sua presença quando este ouve a pregação da fé. Ou seja, ouve o Evangelho e crê em Cristo como Senhor e Salvador. Espírito Santo simplesmente não pode abrir mão dessa ligação. E é a compreensão constante, a contemplação da cruz, do evangelho que catalisa o Espirito em minha vida!
A pessoa do Espirito Santo, sua ação e operação, sua atuação e seu poder, não decorre de gritos, jejuns, ele vem como resultado de pregação da Palavra da Cruz. O poder do Espírito Santo decorre da pregação da Cruz e não de manipulação. [Eu vou fazer uma oração para que você seja batizado no Espírito Santo...]
3. Recebimento do Espírito é uma experiência que passa ao nível da consciência. Constitui-se numa experiência no sentido pleno da palavra, ocupando, como outras experiências, de modo que ela pode ser recuperada de sua memória. Ao ser perguntado, o cristão fornece a informação.
Eis uma resposta às supostas experiências extática atribuída ao Espirito Santo, principalmente nos meios carismáticos. Como o “cair no Espírito” onde tal experiência implica em suspenção da mente tornando-a infértil
desnecessária. Jamais o Espírito opera nos arrebatando a razão ou a consciência [Carlinhos – cai mas não sei, ou foi mental ou diabólico] ou algo que está fora do controle mental ou racional do ser humano. Como rodopiar no Espírito, rir no Espirito, gritar no Espirito, dançar no Espirito... No meio Pentecostal a obra do Espirito é visto como algo irracional e descontrolado. Mas Paulo e a Palavra confronta essa visão, isto nada mais é do que paganismo! O Espirito Santo não usurpa minha mente, pelo contrário ilumina, enriquece, alarga. Ele não subtrai minha consciência.
4. O Espirito Santo por excelência não provoca ocultamento. Deus não se esconde ali. Ele busca a publicidade. Seu Espírito preenche corpo e alma, rompe para fora em palavras e ações. Por isso ninguém se torna um cristão sem percebê-lo e ninguém se torna cristão sem que torne e deseje e queira que todos saibam que ele o é.
Conclusão:
1. Não se separa Espírito da mensagem da Palavra. O Espírito Santo opera mediante a Palavra [v.2,3], Ele é fiel a Palavra e não age sem ela ou contra ela, logo avivamento não é gritaria, não é show, avivamento decorre de um profundo interesse pela Palavra em decorrência de sua exposição. Em especial a mensagem da Cruz.
2. Devemos reconhecer em nossa caminhada o perigo real de sermos seduzidos e afastarmos do Evangelho, reconhecemos a presença dos inimigos da cruz que se levantaram para nos “enfeitiçar” a fim de não mantermos nos olhos na cruz.
3. A salvação é por graça, nada somente em nada, o homem mediante seu esforço e obras pode contribuir para ser salvo, ela é operada mediante a pregação da cruz e pela fé, nenhuma confiança no esforço humano é necessária para se obter a justificação.