terça-feira, 22 de maio de 2012


Escola Charles Spurgeon
Prof. Luiz Correia
Introdução ao VT

Plano de Aula 7

02
15/04
Os Poéticos: Jó e Salmos
Panorama do AT – cap. 13-16
Conheça Melhor o AT – pg. 143-198
Entenda o AT –pg. 105-126

OS LIVROS POÉTICOS

Para se compreender e apreciar os Livros Poéticos, é importante reconhecer em primeiro lugar as características, os objetivos e as singularidades da poesia hebraica.

1. Poema é composição literária em forma de verso que expressa um sentimento ou uma ideia.
2. Os hebreus identificavam Jó, Salmos e Provérbios como livros poéticos, para a Vulgata, Eclesiastes e Cantares [didáticos] são tratados também como poéticos.
3. Didaticamente os livros Poéticos são divididos em [1] Livros Hínicos [Salmos e Cantares] e [2] Livros de Sabedoria: Jó, Provérbios e Eclesiastes.

I. CARACTERÍSTICAS DA POESIA HEBRAICA – PARALELISMO

1. A Essência do Paralelismo

A poesia hebraica enfatiza mais o “ritmo da ideia” do que o ritmo do som, pois a mente oriental está mais interessada no conteúdo da ideia do que nos meros artifícios literários. A isto se chama “paralelismo”: a primeira linha do poema é paralela com a  segunda ou com as linhas seguintes. Essa característica não é perdida na tradução para outro idioma, o que pode acontecer quando a rima é a principal característica da poesia.

2. Tipos de Paralelismo

a. Sinônimo – A segunda linha repete ou reproduz a primeira em palavras semelhantes. [Sl 19:1]
b. Antitético – A segunda linha expressa a ideia oposta da primeira, fazendo contraste [Sl 1:6]
c. Sintético – A segunda linha completa ou amplifica a primeira [Sl 19:7]
d. Analítico – A segunda linha apresenta uma consequência da primeira [Sl 23:1]
e. Climático – A segunda linha repete a primeira e a conduz ao clímax [Sl 29:1]
f. Emblemático – A segunda linha ilustra a figura apresentada na primeira [Sl 103:11]
g. Quiasmo – A segunda linha repete a primeira, mas em ordem invertida [Quiasmo ação de dispor em cruz – letra grega c ”qui”] [Sl 51:1]

II. OS SALMOS

1. Título – Os hebreus chamam de “O Livro de Louvores” ou “Louvores” ou tradutores gregos “Salmos”, canções cantadas com acompanhamentos de instrumentos de cordas [ver Lc 20:42, At 1:20].

2. Autores – Embora toda coleção seja chamada de “Salmos de Davi” por seu o autor da grande maioria [75] há outros autores: Moisés [1], Salomão [2], Asafe [12], Filhos de Coré [10], Hemã [1], Etã [1]. Os tradutores da Septuaginta identificam Ezequias [15], Jeremias [1] Ageu [1], Zacarias [1] e Esdras [1]. Os outros são chamados salmos órfãos, não identificados.

3. Categorias dos Salmos

A. Salmo de Lamento

Forma

(1) Invocação, clamor pela ajuda de Deus. Parte curta onde o salmista clama a Deus por seu nome, geralmente no vocativo.
(2) Lamentando ou queixa sobre infortúnios. Ele sente como se Deus não estivesse lhe protegendo, como seus inimigos o estivesse perseguindo ou ele envolto em grande tristeza. [Sl 13:1,2]. Ele não esconde sua tristeza e desapontamento.  Ele não culpa a Deus, embora crê que Deus pode solucionar seus problemas.
(3) Súplicas e petições a Deus para transformar os infortúnios acompanhados com choro, jejum, vestidos de saco e cinzas [Jl 2:12-17, Sl 13:3,4]
(4) Confissão de fé ou declaração de confiança. Pensamentos voltados para exercitar confiança no suplicante e mobilizar Deus à ação, tais como sua honra ou por amor ao seu nome. Geralmente termina com a certeza de ser escutado. [Sl 13:5]
(5) Voto de louvor. Muitos salmos de lamento terminam com a declaração de o adorador cantará louvores ao Senhor.

Considerações Importantes:

(1) Os salmos de lamento podem ser individual [3; 5; 6; 7; 13; 17; 22; 25; 26; 27:7-14; 28; 31; 35; 38; 39; 42-43; 54-57; 59; 61; 63,64; 69; 70; 71; 86; 88; 102; 109; 120; 130; 140; 141; 142; 143] ou comunitário [44; (58); (60); 74; 79; 80; 83; (106); (125)]
(2) Os contextos destes salmos são dias de jejum nacional e/ou festivais de lamento conclamados por várias calamidades nacionais, tais como guerra, exílio, pestilência, seca, fome, e pragas no caso de lamento nacional, mas no lamento individual eles surgiram de situações de aparente risco de vida mais do que de situações do dia a dia; tais situações podem incluir doença, infortúnio, perseguição por inimigos.

B. Salmo de Louvor [8; 19; 29; 33; 65; 67; 68; 96; 98; 100; 103; 104; 105; 111; 113; 114; 117; 135; 136; 139; 145-150.]

Forma

1. Uma convocação para louvar a Deus
2. Motivos para louvar a Deus: Pelas suas qualidades e atributos e/ou pelas suas ações regulares ou repetidas, inclusive sua obra da criação, na providência e especialmente no trato com Israel.
3. O Salmo 100 segue este modelo.

Considerações Importantes:

(1) Possuem várias subcategorias segundo a estrutura, tópico ou motivo de louvor.
(2) Hinos eram cantados como parte da adoração em diversas ocasiões, inclusive festivais sagrados, assim como em outros momentos, talvez por um coral ou um cantor individual.
(3) Alguns desses salmos eram cantados à medida que os peregrinos iam ao Templo. Eram os cânticos de romagem ou Salmos dos Degraus. [120-134]

C. Salmos Históricos

Estes salmos fazem uma retrospectiva da história de Israel, lembrando os ouvintes dos pecados da nação, louvam a Deus por seus feitos graciosos em favor do povo e incentivam as pessoas a confiarem no Senhor, porque Ele lhes tem sido fiel. [Sl 78]

D. Salmos Imprecatórios

Alguns salmos contêm maldições ou imprecações contra os inimigos do povo de Deus. [Sl 139:19-22, 35,69,109]. Esses salmos causam certo desconforto a alguns cristãos porque parecem retratar uma atitude vingativa, exatamente o oposto da ordem de Jesus [Mt 5:44]. Há aqueles que creem que tais salmos são impróprios para os cristãos. Entretanto, uma análise cuidadosa dessas expressões de justa indignação demonstra que elas não são motivadas por desejo pecaminoso ou vingativo. No Sl 109:6-20 revelam os pecados dos ímpios que são a mentira e acusações falsas contra o justo [2-5]. O autor pede a Deus que julgue os ímpios, sendo que o próprio Deus afirmou que seria essa a maneira como recompensaria os maus por suas atitudes. [6-20]
 O desconforto que os cristãos modernos sentem ao ler essas orações pode ser um indicio da tendência atual de amenizar a seriedade do pecado. Paulo entregou à morte e a Satanás o cidadão de Corínto [I Co 5], amaldiçoou quem pregassem outro evangelho [Gl 1:6-10]. Ambos, Davi e Paulo possuíam uma compreensão da ira de Deus contra o pecado do que muitos imaginam. Ambos os testamentos ordenam amar o próximo [Lv 19:18, Mt 19:19] e ambos condenam a vingança [Dt 32:35, Hb 10:30] assim como ambos ensinam a odiar e fugir do pecado, porque Deus o odeia.

E. Salmo de Confissão e de Penitência.

Um marca dos que amam a Deus é aversão ao pecado, o desejo de evitar atitudes ou atos pecaminosos e a disposição de confessar seu pecado para que possam receber o perdão de Deus. Embora o Dia da Expiação fosse uma dia de humilhação e penitência [Lv 16] os crentes do VT podiam reconhecer suas falhas e receber o perdão de Deus a qualquer momento. O ato da confissão estava ligado ao sacrifício no Templo, mas não era a parte mais importante do culto, antes a busca de Deus era um coração quebrantado [Sl 51;16,17]. Exemplos de salmos de confissão são Sl 51,32 ambos ligados ao adultério de Davi com Bate-Seba.

F. Salmos de Sabedoria

Sua identificação não é fácil, mas uns grupos de salmos se encaixam perfeitamente nesta categoria: 1,37,73,112,127,128]. Os temas [prosperidade e destruição , o justo e o insensato, o sofrimento do justo] e suas declarações em tom proverbiais indicam que os salmistas liam escritos de sabedoria e criam que esses ensinamentos poderiam instruir o povo de Israel.

G. Salmos Reais

Neste grupo de salmos estão os cânticos a respeito de um rei terreno ou canções de sua autoria, bem como hinos sobre o reinado de Deus. No primeiro grupo encontram-se os salmos 20,21,45,72,89 e 132. Nele o salmista pede a Deus que proteja o rei ungido de Jerusalém e lhe conceda vitória. No segundo grupo encontram-se os salmos 47,93, 96-99 que celebram o governo soberano de Deus.

H. Salmos Messiânicos

Alguns salmos são descrições de alguma experiência de Davi, que além de sua experiência pelo salmo retratada apontam para além de si, para um dos seus descendentes, o Messias, Filho de Davi. [Sl 2, 110]. Alguns comentaristas discordam da maneira de interpretar alguns salmos que aparentemente não são messiânicos no AT, mas que aparecem citados no NT como tais. Eles acreditam na existência de um duplo cumprimento, enquanto outros teólogos são da opinião de que há um cumprimento tipológico. Em qualquer dos casos, é importante que o estudante primeiro tente descobrir o que as passagens significavam para Davi e seus  compatriotas israelitas.

5. Valor dos Salmos

A. Em período de dificuldade, os crentes podem levar seus fardos a Deus, pois ele sempre ouve as orações dos que se aproximam dele e os consola.
B. Uma oração por ajuda divina não deve apenas enfocar nosso problema ou necessidade, deve também exaltar a capacidade de Deus, renovar nosso compromisso de confiar nEle e confirmar nosso desejo de glorifica-lo.
C. A alegria do Senhor deve encher o coração e os lábios daqueles a quem Deus abençoa.
D. Devemos louvar a Deus porque Ele nos criou, porque somos seu povo e porque Ele supre nossas necessidades.
E. Deus participa de forma soberana da direção da vida do crente.
F. Apesar do pecado humano, Deus oferece seu perdão gratuito aos que se arrependem.
G. Deus odeia o pecado e julgará o pecador.
H. Os preceitos a respeito da vida estão revelados nas Escrituras.
I. Deus é o Rei de toda a terra. Ele reina com todo o poder e com justiça perfeita. No final dos tempos o Messias derrotará os poderes terrenos e todos o louvarão. E Ele governará toda a terra.


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