sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O TEMOR DE TRABALHAR EM VÃO


         Receio de vós tenha eu trabalhado em vão para convosco. [Gl 4:11]

   Uma das tristezas maiores que luto em minha vida pastoral é que me dando e me doando por alguém veja todo o meu esforço por água abaixo, não dando em nada. Esta experiência por mim vivida algumas vezes tem sido muito difícil de lidar. Não digo necessariamente com aquela pessoa que não frutificou, falo com respeito ao meu próprio coração. Obviamente quando trabalhamos no reino desejamos ver frutos de nossos esforços, esperamos edificar mais do que prédios, anelamos como pastor edificar vidas cristãs saudáveis e maduras. Assim passo a me entregar quando vejo alguém que demonstra inicialmente na vida cristã algum desejo de crescimento. Procuro me envolver, visitá-lo, reunir-me com ele, orar com ele e por ele, e principalmente ministrar a Palavra. Meu coração então fica alegre e crio expectativas de ver ali um grande servo de Deus sendo gerado. Visualizo o que tal vida poderá contribuir para o reino, para o Corpo de Cristo e para a Eternidade. O entusiasmo enche meu coração e o sorriso estampa o meu rosto. No entanto toda esta grande expectativa algumas vezes é frustrada. Tal vida a quem foi dada tempo, esforço, dedicação e oração não avança, não cumpre as expectativas, antes tropeça e trava, estagnando-se num engessamento e esfriamento espiritual mórbido, ou ainda desvia-se e debanda-se da igreja. E aí vem o momento que meu coração se inquieta. Tento lutar comigo mesmo para não ficar com sentimentos de auto-piedade ou auto-comiseração, tento meditar que o que faço devo fazer visando a Glória de Deus, esforço-me para virar a página e passar por cima desta situação a fim de que eu também não me trave. Mas digo-lhe que não é fácil. Quero compreender a frase de Paulo aos gálatas a partir deste pensar. Paulo confessa: Receio de vós tenha eu trabalhado em vão para convosco” [Gl 4:11]. Trabalhar em vão eis um grande temor pastoral. Investir tempo e esforço para, no fim, não ver na vida de alguém nenhum resultado. Confesso a você que demora um pouco para digerir tal sentimento. Creio que tal receio compartilhado aos irmãos da Galácia por Paulo não é algo isolado ou incomum, é um peso que parece estar constante no coração do apostolo dos gentios. Pois ele declara aos seus irmãos em Filipos: “Preservando a palavra da vida, para que, no Dia de Cristo, eu me glorie de que não corri em vão, nem me esforcei inutilmente. [Fp 2:16]. Esforço aqui diz respeito a um trabalho exaustivo que leva a fadiga, uma labuta cansativa, no entanto no caso inútil e improdutivo. Quando penso em esforço inútil só me vem a cabeça um hamster correndo numa gaiola que roda, roda, roda mas não vai para nenhum lugar. Paulo não queria ser este hamster pois ele confessa “Assim corro também eu, não sem meta, assim luto, não como desferindo golpes no ar.” [I Co 9:26]. Correr sem meta traz a lembrança o filme “Forrest Gump, o Contador de Histórias” onde o protagonista, Forrest, interpretado por Tom Hanks, corre pelos EUA por três e meio numa corrida louca e sem sentido. Dá um soco sem atingir o alvo também é algo extenuante, improdutivo e desanimador. Paulo viu-se ameaçado por este terrível senso de fazer de seus esforços algo improdutivo e não permanente. Confesso que esta realidade também me ameaça. No entanto ela pode me ameaçar, mas não vai me destruir e nem me paralisar de continuar investindo em pessoas, pois afirmei anteriormente que embora veja que pessoas que investi parte de minha vida não se tornaram aquilo que tinha como expectativa, declarei que foram algumas, não todas. Em outras palavras posso olhar para trás com alegria e uma grande satisfação em ver outros que gerei no Senhor, ou que dediquei minha energia que frutificaram e cresceram na graça e no conhecimento de Cristo para a Glória de Deus. Eis ai, portanto, a bênção que não quero deixar de obter, mesmo correndo o risco de que alguns não frutifiquem, outros certamente frutificarão. Se aqueles causaram-me tristeza e decepção, estes me dão grande alegria e satisfação. Este é o sentimento retratado por Paulo aos filipenses, irmãos e filhos na fé: “Portanto, meus irmãos, amados e mui saudosos, minha alegria e coroa, sim, amados, permanecei, deste modo, firmes no Senhor.” [Fp 4:1]. Sim eles são a minha alegria e minha coroa na labuta pastoral.

Pr. Luiz Correia
[Prega a Palavra]

Um comentário:

  1. Pastor Luis, não entristeça, ao contrário tenha alegria pois como o senhor mesmo diz se "alguns" não frutificam na fé, "muitos outros" frutificam e se tornam exemplos de vida cristã.

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