terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

MARCA 7: DISCIPLINA BÍBLICA NA IGREJA [Parte I]



Hb 12:3-11

Introdução
Disciplina eclesiástica é um termo em risco de extinção no seio da igreja. Vivemos a era do individualismo, da tolerância, da liberdade de escolha quanto ao comportamento, a privacidade e a disciplina eclesiástica vai de encontro a estes conceitos da pós-modernidade. Para muitos, inclusive cristãos, a igreja não tem nada a ver com o procedimento "secular" de seus membros. Além do mais a igreja precisa conservar a todos o custo os seus membros. Os líderes com medo da impopularidade, fecham olhos para a presença do pecado na igreja e em nome de uma atitude mais humana e "amorosa" omitem qualquer ação disciplinar. Ao mesmo tempo existem os extremos de disciplinas realizadas sem base bíblica e feitas de uma forma errada e injustas.
  O exercício da disciplina na igreja é algo tão importante que o reformador João Calvino a considerou, ao lado da proclamação da Palavra e da administração das ordenanças, uma das marcas que distinguem a igreja verdadeira da falsa. A igreja, quando negligencia essa área, ela não está somente enferma, mas pior ela deixa de ser verdadeira. O resultado é que a autoridade na pregação e o testemunho do Evangelho ficam prejudicados.
Não queremos desenvolver um espírito de censura gratuita, no qual enxerguemos sempre o argueiro no olho do irmão antes da trave que está no nosso. Mas precisamos despertar um senso de comportamento bíblico que faça justiça ao nome de Cristo e que não envergonhe o Evangelho. Isso começa com o cuidado sobre a nossa própria vida e deve se estender pela nossa igreja local. A disciplina, exercida com amor, pelas razões especificadas na Bíblia e com os objetivos que ela prescreve, deve ser exercida na esfera pessoal e apoiada e compreendida quando já estiver na esfera Igreja. 

Deus ama a Igreja e deseja mantê-la saudável através da disciplina bíblica.

I.       A NECESSIDADE DA DISCIPLINA NA IGREJA
II.     O PROPÓSITO DA DISCIPLINA NA IGREJA
III.  OS PASSOS DA DISCIPLINA NA IGREJA
IV.  OS EXEMPLOS BÍBLICOS DE DISCIPLINA NA IGREJA

I.       A NECESSIDADE DA DISCIPLINA NA IGREJA

Disciplina é uma necessidade humana e de toda e qualquer instituição, primeiramente precisamos de disciplina própria [I Co 11:31], ou seja, precisamos nós mesmos corrigimos as nossas atitudes erradas. O lar também precisa de disciplina, os pais devem disciplinar [corrigir] seus filhos [Ef 6:4] e outra instância que precisa de disciplina é a igreja, para o bem de sua saúde espiritual.

O texto de Hebreus 12:4-11 aborda aspectos sobre a natureza da disciplina divina. Deus disciplina, Deus corrige. Este texto é um fundamento para uma visão correta e sadia de disciplina. Tantos para os pais, como os membros de uma igreja local. Vamos considerar alguns aspectos da disciplina divina:

1.      A Disciplina é uma prova do amor de Deus [4-6]

É certo que o mundo vê a disciplina como expressão de ira e hostilidade, há uma repugnância quanto a isto e hoje mais ainda. O texto afirma sobre “menosprezar” [fazer pouco caso, tratar como insignificante]  mas as Escrituras mostram que a disciplina de Deus é um exercício do seu amor por seus filhos. Isto não é contradição, o fato lamentável é que as pessoas não conhecem a Deus verdadeiramente e não sabem o que é amor. Amor e disciplina possuem conexão vital (Ap 3.19). Disciplina é prova de amor! É um privilégio que Deus estende aqueles que ele ama. Ironicamente, Deus não disciplina aqueles que não lhe pertencem. A estes Deus julga. É  por isso que quando somos disciplinados por Deus devemos ver isto como prova de amor, não ficarmos “desmaiados”, desanimados, triste. Porque não consegue ver o propósito de Deus a longo prazo.
Içama Tiba, lançou um best-seller “Quem ama educa”, eu creio que alguém deve lançar esse livro: “Quem ama disciplina”. Então amados, quando estamos sendo corrigidos por Deus, Ele esta mostrando o seu amor:
Portanto a disciplina eclesiástica é uma expressão de amor e deve ser exercida em amor (Hb 12.6-11; Ef 4.15; 2 Ts 3.15; 2 Jo 6; 2 Co 2.6-8; Pv 13.24), mansidão (2 Tm 2.24,25; Gl 6.1), bondade (Rm 15.14), paciência (1 Ts 5.14) e com pesar (1 Co 5.1,2).
Portanto disciplina eclesiástica não é vingança, não é uma expressão de arbitrariedade, não deve ser motivada por inveja, ciúme, não é uma ação tirânica, pode ser e se assim for é uma perversão do que é disciplina.

2.      É uma prova da paternidade de Deus [7-9]

A disciplina não é somente sinal de amor, mas evidência de filiação espiritual. A disciplina envolve relacionamento familiar (Hb. 12.7-9), e quando os cristãos recebem disciplina divina, o Pai celestial está apenas tratando-os como seus filhos. Deus não disciplina bastardos, ou seja, filhos ilegítimos (v. 8). O pai que não disciplina o filho é uma pai negligente, deficiente, um mau pai. A psicologia e as escolas humanistas me atacariam por dizer isto. Além do mais há debatida lei da Palmada:

“Como foi amplamente noticiado, o Projeto de Lei n.º 2654/03, conhecido como Lei da Palmada, foi sancionado pelo Presidente Luis Inácio Lula da Silva, estabelecendo “o direito da criança e do adolescente a não serem submetidos a qualquer forma de punição corporal, mediante a adoção de castigos moderados ou imoderados, sob a alegação de quaisquer propósitos, ainda que pedagógicos”.
“Os pais que infringirem a lei poderão ser punidos e encaminhados a programas oficiais ou comunitários de proteção à família, fazer tratamento psicológico ou psiquiátrico, participar de cursos ou programas de orientação. Já a criança ou o adolescente poderá ser encaminhado a tratamento especializado.” [Do site http://mulheradventista.com/a-lei-da-palmada-diante-da-biblia/]
Não sou contra a proteção do Estado contra os excessos dos pais ou responsáveis [o abuso], mas considero um abuso também tal lei. Ocorre que, a despeito de toda a discussão jurídica e sociológica que permeia a Lei, a Bíblia diz assim:

“Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá. Tu a fustigarás com a vara, e livrarás a sua alma do inferno.” (Provérbios 23:13 e 14).

“O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo o disciplina.” (Provérbios 13:24)

“A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela.” 
(Provérbios 22:15)

Portanto, Deus Pai disciplina e o fato de assim fazer é prova que Ele é Pai. Confesso que me contrário ao que alguns pensam quando vejo uma pessoa crente [o que se diz] que vivem em desobediência e rebeldia, que se afasta dos caminhos e que anda contrária a vontade de Deus e que nada acontece com ele, me preocupo pois tal progresso no pecado é sinal de que este não é filho de Deus. Igualmente quando percebo a mão disciplinadora na minha vida e na vida de outros irmãos, embora sofra e compadeça com estes, por outro lado costumo me alegrar, pois vejo o cuidado paternal de Deus. Enquanto algumas pessoas lamentam, eu me alegro. Que bom é um sinal do cuidado de Deus! Uma “boa surra” divina é um verdadeiro teste de DNA que prova que sou filho de Deus!

A disciplina divina não é judicial, para fazer com que paguemos nossos pecados. Ele envia dificuldade e desafios para nos corrigir e fortalecer nossa fé. Adversidades são auxílios e meios para nos aproximar de Deus. Ele não nos pune judicialmente, a seus filhos, não, mas paternalmente.
Alguns dizem: “Deus não mandaria e nem condenaria seus filhos ao inferno!”.  Afirmam alguns críticos contra a doutrina da condenação e do inferno. De fato seus filhos não são punidos, pois os pecados dos seus filhos foi pagos ou vindicados ou quitados na Cruz!  Só há dois lugares onde Deus pune pecado satisfazendo sua justiça que foi violada pelo pecado do homem. Na Cruz e no Inferno! John Piper explica assim:

Existe um julgamento cujo propósito é vindicar o direito por meio da restituição do erro, estabelecendo, assim, a eqüidade no reino de Deus, um reino de justiça. A cruz faz isso para aqueles que estão em Cristo, e o inferno o faz para todos aqueles que não estão em Cristo. A maldição que merecíamos foi lançada sobre Cristo, na cruz, se cremos nEle (Gl 3.13), mas recairá sobre nós, no inferno, se não cremos nEle (Mt 25.41). "

“No entanto, o alvo das conseqüências do pecado perdoado, as quais são enviadas por Deus, não é acertar as contas exigidas pela penalidade da justiça. Os alvos dessas conseqüências são: 1) demonstrar a excessiva malignidade do pecado; 2) mostrar que Deus não trata com leviandade o pecado, mesmo quando deixa de lado a punição; 3) humilhar e santificar o pecador perdoado.”

Hebreus 12.6 nos ensina que "o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe". O propósito não é penalizar, e sim purificar. "Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade. Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça" (Hb 12.10-11).

Somos por Deus disciplinados, Cristo foi punido na Cruz em nosso lugar, a ira Deus que era devida a nós foi por Cristo aplacada, quando ele bebeu o cálice pelos nossos pecados! Jesus foi punido por nós!

Transição – O texto de Hebreus 12 não só apresenta aspectos sobre a necessidade da disciplina, mas aponta também o propósito. Agora quero explorar os objetivos que se tem ao mencionar, primeiramente falarei da disciplina divina [modelo] e depois a disciplina divina por meio da igreja.

II.    O PROPÓSITO DA DISCIPLINA NA IGREJA [Hb 12:10-13]

Uma definição de disciplina eclesiástica seria: “Todos os meios e medidas pelas quais a igreja busca a sua santificação e boa ordem necessária para a sua edificação espiritual e a eliminação de tudo o que ameaça o seu bem-estar” (D.S.Chaff). Vejamos alguns propósitos da disciplina divina e eclesiástica:

1.      Para nos santificar [v.10]

O texto faz um contraste entre a disciplina do pai terreno diante do divino. [v.9]. Vivemos a crise de autoridade no lar, muitos pais [homens] são omissos como esposo e como pai. Onde falta esta autoridade a família e a sociedade entra em colapso. Então ele fala de que a disciplina do pai terrestre é curta e breve [eu levei umas lapadas até mais ou menos 10-11 anos], depois que o filho cresce e sai de casa acaba a autoridade paternal e assim a disciplina.  Além de curta a disciplina do pai terrestre é falível. Eu disciplinei meus filhos e procurei ser o mais bíblico possível, mas sei que as vezes errei. Deveria ter disciplinado quando não o fiz [errei por omissão] e disciplinei quando não deveria [errei por excesso]. Certamente errei porque disciplinei irado ou insensível.

A disciplina divina não. Ela é permanente, ou seja, mesmo um homem já bem mais maduro na fé esta sujeito a disciplina de Deus [pastor, diácono, líderes], como também a disciplina divina é perfeita. Deus sabe bem disciplinar, na medida certa, no momento certo, da forma certa e pelos motivos corretos. Deus visa corrigir, nos livrar do gosto pelo pecado, nos mostra o quanto o pecado é amargoso e seu gosto pode ser inicialmente doce mas seu fim é amargo. Ele quer nos tornar santos, quer que participemos de sua santidade.

Deixo-lhe dizer, compartilhar a santidade de Deus é uma benção sem medida. Não tem preço. Amigo, você que acredita que andar no pecado, amar o pecado, gostar de pecar, fazer o que lhe der na cabeça, se você acredita que isto sinceramente é vida verdadeira, eu lhe desafio a provar a desfrutar andar com Deus e experimentar a benção de sua santidade em sua vida, a benção da pureza, a benção de ter uma consciência sã, de ter um coração cheio de temor, a benção amar a Deus e odiar o pecado! Deus visa com sua disciplina nosso bem-estar espiritual e eterno.

2.      Para nos tornar frutíferos [v.11]

A disciplina que vem do Senhor é para nosso aproveitamento, ou seja, nosso bem (v. 10). Ainda que seja inicialmente doloroso receber disciplina, a mesma produz paz e retidão (v. 11). O propósito de Deus em disciplinar não é o de incapacitar permanentemente o pecador, mas antes de restaurá-lo à saúde espiritual (v. 13).  O propósito da disciplina é limpá-lo e levantá-lo para que você viva uma vida frutífera para a glória de Deus.  A disciplina é um ato doloroso, mas um ato de amor. A disciplina não é agradável nem para o filho, nem para o Pai, mas a disciplina é a demonstração de um amor responsável. A disciplina é o método de Deus para tirar você de esterilidade. [veja Jo 15:1-2]
Hebreus 12:11 mostra que o projeto de Deus na disciplina é produzir fruto. A disciplina não tem que ser contínua, tão logo o galho deixa de se arrastar pelo chão, tão logo o crente se arrepende, a disciplina cessa. Deus não espera que você procure a disciplina. Ele quer que você saia dela.

3.      Proteger a pureza moral e a integridade doutrinária da igreja (1 Co 5.6,7; 2 Jo 7-11; 1 Tm 1.13).

A igreja não pode tolerar o pecado (Ap 2.20). Se Cristo deseja sua igreja “sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Ef 5.27), a disciplina eclesiástica é altamente relevante, pois é um meio instituído por Deus para manter pura a sua igreja. O servo de Deus sempre deve almejar a pureza da noiva do Cordeiro (2 Co 11.1-3), mesmo diante da possibilidade da sua contaminação pelo mundo. Garantir a pureza da fé e do modo de viver da Igreja. Se não houvesse disciplina, esta pureza estaria perdido.

4.      Dissuadir outros a não pecarem, temendo a disciplina (1 Tm 5.20; At 5.11).

A disciplina não é obrigatoriamente sinônimo de exclusão, assim como o remédio para tratar um membro doente não é a amputação, senão em último recurso. Isto ocorre frequentemente por falta de habilidade para tratar o caso e por falta de misericórdia por parte dos crentes. A disciplina tem o propósito de educar, corrigir, livrar do mau caminho (Pv 6.20,23; 5.22,23).

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