quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O EVANGELHO DA JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ [Parte I]

Gl 2:15-21

Introdução:

Aqui aparece uma palavra importante: “justificado” [4x no v.16-17]. Esse termo é central no evangelho e essencial na fé cristã. A compreensão da fé cristã e sua vivência passa inevitavelmente pelo entendimento desta doutrina [embutida na palavra]. Aqui está uma apresentação, uma exposição magistral, poderosa e belíssima desta importante verdade. A essência do evangelho se encontra jaz nesta verdade: Homens e mulheres podem ser aceitos por Deus, não por causa de suas obras, mas através de um simples ato de confiança em Jesus Cristo.

O monge agostiniano Martinho Lutero, depois de buscar, sob o forte peso da culpa, a sua justificação pelas obras, viu “as portas do paraíso se abrirem” ao ler a carta de Paulo aos Romanos [1:17] e achar essa verdade. Ele declara: “Esta é a verdade do evangelho. É também o artigo principal de toda doutrina cristã, em que consiste o conhecimento de toda piedade. Portanto, é mais do que necessário que conheçamos bem este artigo, que ensinemos aos outros e que martelemos em suas mentes” E acrescenta: “Se o artigo da justificação for alguma vez perdido, então toda a verdadeira doutrina ficará perdida”. Esta doutrina é a espinha dorsal do cristianismo, estabelece a glória de Cristo, derrota a vã glória humana. Quem a nega não pode ser considerado cristão verdadeiro.  Se é assim então cabe-nos debruçarmos sobre ela para que a entendamos.

Justificação é um termo legal ou forense, emprestado dos tribunais. É o oposto de condenação. Condenar é declarar uma pessoa culpada, justificar é declarar sem culpa, inocente, justa. Assim justificação é o ato imerecido do favor divino através do qual Ele coloca diante de si o pecador, não apenas perdoando-o ou isentando-o da culpa, mas também aceitando-o e tratando-o como justo.

A necessidade da justificação vem de dois fatos incontestáveis: Deus é justo, nós não somos. E quando esta duas verdades são colocadas lado a lado, emerge a nossa difícil situação que é tanto testemunhado por nossa consciência e revelado pela nossa experiência: Há algo de errado entre nós e Deus. Em vez de harmonia, há atrito, em vez de comunhão, alienação e inimizade. Por causa destas duas verdades tem-se um abismo entre ambos, não podemos ter sua presença, não podemos ter sua comunhão.

Então surge uma questão fundamental: “Como pode um pecador condenado ser justificado?”. Este parágrafo contém a resposta. Baseado na exposição de Paulo desta doutrina apresento-lhes algumas características da justificação.

I. A JUSTIFICAÇÃO É NECESSIDADE UNIVERSAL [15-16]

Paulo faz uma afirmação categórica nos v.15-16. Tanto judeus, com todas suas vantagens, com nação eleita, com sua presunção por se sentirem superiores aos gentios por possuírem a lei [Rm 2:17, Fp 3:5], e por isso chamavam os gentios de pecadores por não tê-la e nem guarda-la. Mesmo diante de tudo isto, a verdade é clara, o judeu ou homem algum não é justificado pelas obras da lei. Não há distinção entre os judeus ou gentios no processo de justificação, pois ambos são pecadores.

As palavras “o homem” e “ninguém” [toda a carne, humanidade] deixa claro que a justificação é o único meio qual qualquer homem pode ser aceito diante de Deus. Em outras palavras ninguém, absolutamente ninguém pode, foi ou será justificado pelas obras da lei. A justificação é o único meio real para o homem ser aceito e reconciliado com Deus.

II. A JUSTIFICAÇÃO NÃO ADMITE COMPETIÇÃO PELAS OBRAS

Paulo fala de obras da lei, ou seja, atos praticados em obediência a ela. Os judeus criam que podiam ser justificados por meio da lei [sem Cristo] e os judaizantes afirmam que a fé em Cristo mais obras também. Para os judeus eles criam que a justificação vinha por meio do trabalho duro, era preciso obedecer e guardar os mandamentos [10 em especial]. Devia-se guardar as leis cerimoniais, ou seja, ser religioso [sacrificar, dar esmolas, jejuar, ler as escrituras, dizimar, ir ao templo]. Eles criam que a obras da lei os tornavam justificados diante de Deus. [Rm 10:3]

Queridos esta tem sido a religião comum e do senso comum do homem, é a religião popular, do povo, da massa, das ruas e multidões. Em todo o lugar e cultura pensa-se e age-se assim.

Ils. Minha viagem de Petrolina para Casa Nova, encontrei sr. Humberto, um agricultor... Um dia um homem falou de uma visões...

Todo sistema religioso no mundo [exceto o cristianismo] ensina isto, você deve fazer por onde ser salvo. Faça este teste: Se você morrer hoje você vai para onde? E se na porta do céu for perguntado por que devo deixar você entrar? A reposta comum da primeira é:  “não sei só Deus sabe” e da segunda é “eu fui um bom... eu não matei, eu não roubei, eu não fiz mal a ninguém,  eu era honesto...”

Você sabe qual é a razão fundamental para que o homem afirme e apresente suas obras como meio de salvação ou justificação, porque isto lhe dá glória, isto mostra seu enorme valor, isto lhe enche de importância, é lisonjeiro. Não, diz tal homem, eu não sou tão mal quanto você pensa que eu sou, é verdade que eu tenho uns errinhos aqui e acolá, que eu não sou perfeito, mas se eu melhorar um pouquinho mais, eu tenho certeza que Deus haverá de me justificar.

Ele crê sinceramente que sua salvação é uma troca, um conjunto de pontos que ele vai conseguindo ao longo de sua vida [espiritismo] e que no final Deus vai colocar minhas obras na balança e meus pecados do outro lado e.... Pronto serei salvo! Essa é a maneira comum que o homem comum tenta abrir o caminho para chegar ao céu.

Mas tudo é ilusão, e uma terrível ilusão. É mentira do maior mentiroso [Jo 8:44]. Nunca, ninguém jamais foi justificado por obras, pois nunca ninguém jamais conseguiu obedecer a lei de maneira perfeita. É como se Deus fizesse um vestibular para chegar ao céu você tem que tirar 10 e “Todos pecaram...”  “Não há um justo...”.

Não é possível ninguém tirar 10. Obedecer as exigências da lei está fora do nosso alcance, podemos até alcançar algum tipo de obediência externa [legalista], mas internamente sabemos [e nossa consciência é carrasca para nos alertar] que não cumprimos a lei perfeitamente. Pois Jesus falou que a obediência da lei vai além da letra, mas das motivações internas. Para Deus homicida não é apenas um assassino, mas um homem que se ira e odeia, ou um adúltero não é apenas um que vai a cama com outro, mas um que cobiça e deseja. O homem portanto está perdido! Assim sendo homem nenhum será justificado por obras da lei.

III. A JUSTIFICAÇÃO É FUNDAMENTADA NA MORTE DE CRISTO

Sob que base se dá a justificação? Por que Deus justifica o pecador sem que ele vá contra sua justiça, ou seja, é justa a justificação pela fé? É por causa da cruz!

1. Os pecados dos crentes foram imputados a Cristo - por isto Ele sofreu e morreu na cruz (1 Pd 2:24; II. Co 5:21). Cristo foi feito legalmente responsável pelos pecados do crente, e sofreu o justo castigo que a este correspondia. Ao morrer no lugar do crente, Cristo satisfez as demandas da justiça e o libertou para sempre de toda possibilidade de condenação ou castigo. Ele sofreu pela nossa desobediência. Uma vez que a penalidade pela desobediência é a morte, ele a sofreu.

 Quando os pecados do crente foram imputados a Cristo, o ato de imputação não fez a Cristo pecador ou contaminou Sua natureza tampouco, de modo algum afetou Seu caráter; este ato só tornou Cristo o responsável legal de tais pecados. A imputação não troca a natureza de nada; somente afeta a posição legal da pessoa.

2. Jesus Cristo viveu uma vida perfeita - guardou completamente a lei de Deus [tirou 10]. A justiça pessoal que Cristo obteve durante Sua vida na terra é imputada ao pecador no momento em que este crê. A justiça de Cristo é outorgada ao crente; e Deus o vê como se ele mesmo houvesse feito todo o bem que Cristo fez. A obediência de Cristo, Seus méritos, Sua justiça pessoal é imputada (atribuída) ao crente. Isto de modo algum troca a natureza do crente (como também a imputação de pecados a Cristo não muda a Sua natureza); somente muda a posição legal do crente diante de Deus.

IV. A JUSTIFICAÇÃO É MEDIADA PELA FÉ SOMENTE

Então o único meio pelo qual eu posso ser justificado é pela fé em Jesus, e aqui não se trata de mera convicção intelectual, não é apenar uma crença religiosa, mas é um compromisso pessoal. Crer trata-se de um ato de entrega, não apenas de uma aceitação de um fato do tipo eu sei que Jesus morreu, mas de um ato existencial, de entrega e confiança plena [Ils. Carrinho de mão]. Permita recorrer ao Príncipe dos Pregadores para ajudá-lo a entender a essencialidade da fé bem como sua natureza: 

 A fé verdadeira em sua essência reside nisso — descansar em Cristo. Saber que Cristo é o Salvador não me salva; confiar nele como meu Salvador é que vai me salvar. Não serei poupado na ira vindoura por crer que sua expiação é suficiente; mas serei salvo tornando essa expiação a minha garantia, meu refúgio, meu tudo. O cerne, a essência da fé está nisso — fundamentar-se sobre a promessa. Não é a bóia salva-vidas que há no navio que salva alguém que está-se afogando, nem a convicção de que ela é uma invenção muito boa e prática. Não! E preciso colocá-la em volta da cintura, ou segurá-la com as mãos, ou afogaremos. Usando uma ilustração antiga e bem conhecida: imagine que começou um incêndio num quarto do segundo andar de uma casa, e as pessoas se aglomeram na rua. Há uma criança neste andar: como escapará? Ela não pode pular, porque se faria em pedaços. Um homem forte vem para frente da casa e grita: "Jogue-se nos meus braços." Faz parte da fé saber que o homem está ali; outra parte da fé é crer que o homem é forte; mas a essência da fé reside em deixar-se cair nos braços do homem. Essa é a prova da fé e sua verdadeira essência e medula. Portanto, pecador, você precisa saber que Cristo morreu pelos pecados; precisa compreender também, e crer que Cristo é capaz de te salvar, mas você não será salvo exceto se colocar sua confiança nEle para ser seu Salvador para sempre.

Conclusão:

Só há um caminho para o céu, existem milhões de caminho para o inferno. O que você tem que fazer para ir para o inferno. Nada! Apenas não faça nada, só isso. Você não tem que desdenhar de Deus, você não quer blasfemar o nome dEle. Você não tem que ser adúltero. Apenas cruze os braços! Pois o maior pecado do mundo não é o adultério, o maior pecado do mundo é: “Eu posso ajeitar minha vida sem Deus”. Este é o maior erro. [Leonard Ravenhill]

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